Cabulosas conquistam o bicampeonato mineiro com defesa de pênalti e homenagem à causa LGBTQIA+

Confira o que falaram as protagonistas do Cruzeiro Feminino após o título

Em um jogo com o apoio da torcida e transmissão televisiva, o Cruzeiro conquistou o Campeonato Mineiro Feminino de 2023 – segundo título estadual das Cabulosas – na Arena Independência.

Por Jovana Meirelles e Vinícius Brito

Cruzeiro Feminino conquista o Bicampeonato Mineiro. (Foto: Staff Images/Cruzeiro)

A vitória começou aos 22 minutos do segundo tempo com o gol da artilheira do campeonato, Byanca Brasil. Durante a comemoração, a atacante ergueu a bandeirinha com as cores do orgulho LGBTQIA+.

A confirmação do título, porém, veio pelas mãos da goleira Taty Amaro. Ela defendeu o pênalti cobrado pela atacante do Atlético no último minuto da partida e tirou a chance de levar a decisão aos pênaltis. 

“Esse ano não tinha como não ser nosso. A gente é merecedora de estar aqui, de erguer essa taça e de tá dando alegria pra essa torcida maravilhosa”, comemorou a goleira.

Mais do que uma comemoração

Em conversa com nossa reportagem, Byanca Brasil reforçou a importância da representatividade e explicou que a homenagem feita após o gol foi para além da luta LGBTQIA+:

“Eu levantei a bandeira em homenagem não só a bandeira LBGT, mas também contra o racismo, qualquer tipo de criminalidade que a gente vai contra. E o cruzeiro nos apoia nisso e a gente se sente livre pra fazer o que a gente bem entende. Minha esposa tava aqui no estádio, então eu tô feliz demais de representar e também de ser uma representatividade no meio do futebol e fora dele.”

Após o gol, Byanca Brasil fez homenagem à causa LGBTQIA+. (Foto: Staff Images/Cruzeiro)

Após o apito final, outras jogadoras do Cruzeiro também fizeram questão de comemorar o bicampeonato com bandeiras do orgulho LGBTQIA+ pelo gramado. 

Pênalti defendido

O que não faltou no clássico foram reclamações sobre a arbitragem por ambos os times. No caso do Cruzeiro, a principal reclamação foi sobre a penalidade máxima marcada aos 51 minutos do segundo tempo. 

O lance, que envolveu a goleira Taty Amaro e a atacante do Atlético, Manuela Paví, foi muito questionado pela jogadora cruzeirense: 

“Foi um pênalti marcado injustamente. Primeiro eu faço a defesa, depois eu acerto a menina. Não tem como eu desviar da atacante do Atlético”, argumentou. 

No último minuto de jogo, goleira Taty Amaro consagra a vitória celeste com defesa de pênalti. (Foto: Staff Images/Cruzeiro)

Quando perguntada sobre a defesa, Taty explica que foi fruto de muito trabalho: “Eu sabia que eu ia pegar. Eu trabalhei isso a semana inteira, na verdade, o ano inteiro. Eu pensei: ‘eu vou pegar esse agora e a gente vai garantir… e Deus pôde me honrar’”.

Goleira Taty Amaro fala sobre a decisão da arbitragem e a defesa do pênalti. (Vídeo: Jovana Meirelles/Revista Marta)

Os destaques da entrevista coletiva de Jonas Urias, técnico do Cruzeiro

Treinador campeão do campeonato, Jonas Urias valorizou as Cabulosas e afirmou que o trabalho no Cruzeiro está apenas começando. Jonas fez elogios às atletas e à comissão técnica anterior à sua chegada, que, segundo ele, deixou uma base consolidada para que o novo trabalho pudesse ser iniciado. Além disso, o treinador parabenizou o adversário pela competitividade e pelo alto nível apresentado na final.

“Todo o respeito do mundo ao Clube Atlético Mineiro. Fizeram uma excelente partida. Uma equipe que sempre que nos enfrenta os jogos são dificílimos, né? Acho que faz jus a nossa rivalidade e creio que a partida foi um espetáculo para todos, pro bem do futebol feminino”, ressaltou Urias.

Ao responder pergunta elaborada pela reportagem da Revista Marta, Jonas Urias valorizou a presença do Coletivo Marta na cobertura: “É muito legal ter a presença de futuros jornalistas aqui. Isso é futebol feminino. É preciso pessoas com cabeças frescas. Eu fico muito feliz de você tá aqui”, disse o comandante da equipe celeste. 

O Cruzeiro não era campeão desde 2019 e, nos últimos três anos, foi derrotado para o Atlético na decisão do estadual. Quando perguntado sobre a preparação psicológica das atletas, Jonas disse que reconhece que o elenco estava com cicatrizes por causa das derrotas recentes. 

De acordo com o treinador, o segredo foi “transmitir para elas [as atletas] que o dia de trabalho muito bem feito é o que iria nos aproximar do título e que a gente não precisava ficar trazendo as cargas do passado e nem colocando peso no futuro, mas olhando pro hoje, pra cada dia e fazendo isso muito bem feito.”

Enquanto o treinador respondia, as jogadoras invadiram a coletiva de imprensa aos gritos de “é campeão” para dar um banho de gelo no comandante.

Jogadoras invadem coletiva e comemoram vitória com treinador Jonas Urias. (Vídeo: Vinícius Brito/Revista Marta)

Após o frenesi, Jonas Urias voltou a responder perguntas na sala de imprensa. O treinador comentou sobre acontecimentos específicos do jogo, como o gol decisivo da artilheira Byanca Brasil, o esquema defensivo armado para os últimos minutos do jogo e a atuação quase perfeita da dupla de zaga formada por Camila Ambrózio e Paloma Maciel.

Por fim, o comandante celeste fez elogios à gestão da diretoria do Cruzeiro e afirmou estar empolgado para os próximos passos à frente do Cruzeiro. “Eu acho que o Cruzeiro deixou muito claro para mim que havia uma intenção paralela que era transformar vidas. Isso foi o que mais me atraiu e o que mais me fez querer me unir a esse projeto.”

Confira a entrevista coletiva na íntegra:

Torcida e visibilidade na final

A final do Campeonato Mineiro Feminino de 2023 foi a primeira decisão estadual a ser transmitida em TV aberta. A partida foi televisionada pela TV Globo e transmitida no youtube pela Rádio Itatiaia. 

Para a goleira cruzeirense, essa mudança foi histórica. Segundo ela, transmissões como esta valorizam e incentivam a modalidade, que precisa disso para crescer. 

“Minas precisa apoiar o futebol feminino. A gente precisa de horários novos, precisa jogar em TV aberta. Não tem como valorizar a modalidade se eles não derem essa moral pra gente. A gente precisa desse incentivo. Esse ano a gente contou com isso, foi muito bom e acho que é um crescimento gigantesco pra nossa modalidade.”

Taty Amaro afirma que Minas precisa valorizar mais o futebol feminino. (Vídeo: Jovana Meirelles/Revista Marta)

Além disso, como mandante da partida, a torcida celeste contou com cinco mil ingressos disponíveis a preços entre R$4,00 e R$10,00. Para a atacante Byanca Brasil, o apoio da torcida foi fundamental para a conquista do título:

“Estou muito feliz que a torcida tá aqui, fez total diferença. A gente ali cansada e eles gritando, a gente sendo incentivada o tempo todo. Peço que eles venham mais vezes, nos apoiem… E que isso se torne normal, porque é um espetáculo e a gente mostrou mais uma vez isso. Que a gente tenha mais apoio e visibilidade porque a gente merece”, concluiu a artilheira.

A artilheira Byanca Brasil fala sobre o incentivo da torcida celeste. (Vídeo: Jovana Meirelles/Revista Marta)
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Autor: Laboratório de Comunicação e Esporte

O Laboratório de Comunicação e Esporte é uma disciplina de graduação ofertada anualmente no Departamento de Comunicação Social (DCS) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pela professora Ana Carolina Vimieiro.

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