Por Amanda Silva e Vinícius Brito
A bola é oval. O principal jogador é o quarterback. O ponto é chamado de touchdown. A maior tragédia é um fumble. Há um time para o ataque e outro para a defesa. Você sabe qual esporte é esse?
À primeira vista, parece que é futebol americano, o que os estadunidenses chamam de football. E não está 100% errado não. É quase isso mesmo. O esporte em questão é o flag football, com regras baseadas no “primo”, mas que tem particularidades e ganhou muita visibilidade após ter sido confirmado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) na Olimpíada de Los Angeles de 2028.
A principal delas é que ao invés do tackle como forma de interromper uma jogada ofensiva, no flag, uma equipe para o ataque da outra arrancando a fita que o jogador adversário carrega na cintura.
“O Flag football é um esporte um pouco diferente do futebol americano convencional, mas que tem as mesmas jogadas, sem a questão do impacto, sem a questão das lesões e muitas outras coisas, né? Sem proteção também, porque já que não tem impacto, não tem necessidade de ter proteção”
Felippe Drummond, jornalista especialista em futebol americano
Segundo Felippe, ser um esporte sem impacto é um fator que influencia na expansão da prática do flag em comparação com o futebol americano. Outros fatores também fazem com que especialistas apostem no flag football como uma tendência para o futuro, como:
- Ter equipes menores, pois sua forma mais comum é o 5×5, enquanto o futebol americano é 11×11;
- Poder ser praticado em diferentes arenas. Há adaptações da modalidade para areia (beach flag) e para quadra (indoor);
- Os equipamentos são de baixo custo, o que torna a prática mais acessível.
Diretor geral do América Locomotiva, time amador da modalidade, Abraão Coelho é um dos principais nomes por trás do desenvolvimento do futebol americano e do flag football em Minas Gerais. Ele já atuou como presidente da Federação Mineira de Futebol Americano e é o gestor da Regional Sudeste da Seleção Brasileira Feminina de flag football, um projeto de observação e desenvolvimento de atletas com o objetivo de preparar novas protagonistas para a Seleção principal.
“É um esporte de fácil acesso. A gente precisa de um campo, chuteira e bola. A gente consegue fazer adaptações para introduzir o esporte. Você consegue juntar um time muito rapidamente. Você consegue desenvolver tanto masculino, quanto feminino, o que acelera muito o desenvolvimento das equipes. E, de fato: agora como esporte olímpico, a gente ganhou um novo patamar de visibilidade, né?”, argumenta Abrão.
América Locomotiva e o flag football em Belo Horizonte
Para entender melhor a prática do flag football, a reportagem da Revista Marta visitou um treino do América Locomotiva, uma das equipes mais tradicionais da modalidade no Brasil e com uma das melhores estruturas para o desenvolvimento de novos talentos.
Fundado em 2005, o Locomotiva foi pioneiro na popularização da prática do futebol americano convencional em Minas Gerais. Em 2017, o clube foi vanguarda novamente e criou a equipe de flag football, que foi um sucesso imediato. Nessa curta história, o time já é campeão mineiro da modalidade no masculino (2021) e vice-campeão com o time feminino (2019).
Mesmo com todo o sucesso na modalidade, o América Locomotiva faz parte do cenário amador do flag football brasileiro. Nenhum dos jogadores é remunerado enquanto atleta e todos precisam de fontes de renda externas para sobreviver.
É o que conta Mateus de Caux, atleta do Locomotiva e estudante de ciências econômicas:
“A gente é voluntário. Às vezes a gente até paga para jogar, porque tem locomoção, às vezes tem mensalidade. Então, querendo ou não, a gente faz porque a gente gosta muito e também faz bem jogar um esporte, estar em um ambiente de equipe saudável igual a gente tem aqui no Locomotiva.”
Mateus de Caux, do Locomotiva
Gabriel de Person, capitão da defesa do América Locomotiva e integrante da comissão técnica da Seleção Sudeste Feminina, ressalta o papel desempenhado pelo América Locomotiva na formação de novos talentos do esporte:
“A gente está seguindo uma trajetória disputando campeonatos a nível nacional, levando jogadores pra Seleção Brasileira, para seleções regionais. A intenção aqui é continuar crescendo, continuar trazendo mais gente, formando atletas e pegando os atletas que a gente tem aqui e levando para o alto nível”, contou.
Um desses atletas que foi premiado com convocações e com atuações na elite do flag football brasileiro é Artur Fernandes, de 30 anos. O atleta descreve a oportunidade como “algo surreal”.
“Inacreditável. Uma experiência incrível de estar com os melhores e jogar com uma galera de alto nível. Para mim, foi um aprendizado incrível. Foi perfeito”.




A expectativa para o flag nos Jogos Olímpicos
Em outubro de 2023, foram confirmadas cinco novas modalidades que estarão na Olimpíada de Los Angeles em 2028:
- Beisebol/softbol
- Críquete
- Flag football
- Lacrosse
- Squash
A decisão foi anunciada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) após uma votação entre os integrantes da comissão do programa olímpico. Já a sugestão de incluir os novos esportes partiu do comitê organizador dos Jogos de Los Angeles 2028, que tinha como objetivo trazer modalidades que se aproximassem da cultura esportiva local.
Para quem batalha pela popularização do flag football, como Abraão Coelho e Gabriel de Person, a inclusão na Olimpíada de 2028 é a chance da realização de um sonho de ver a modalidade se expandir.
“O futebol americano tem uma popularidade associada por conta da NFL. O flag football, hoje, tem a oportunidade de crescer em popularidade por conta de uma associação olímpica. Então a gente passa a falar de projeto olímpico”, diz Abraão.
Para Gabriel, o melhor caminho para aumentar o contato da juventude com a prática da modalidade é começar com a implementação nas escolas, com o objetivo de incentivar as crianças desde cedo a praticarem e se apaixonarem pelo flag.