A busca brasileira por um resultado inédito nas Olimpíadas

Apesar de não ter tradição no tiro com arco e de nunca ter chegado ao pódio, o esporte é uma das esperanças de medalha do Brasil em Paris.

Por Hellen Cordeiro

A Esplanada des Invalides foi o local escolhido para as disputas do tiro com arco nas Olimpíadas de Paris 2024. Entre os dias 25 de julho e 4 agosto, o jardim localizado no coração da capital francesa, receberá os 128 atletas de 53 países diferentes para a disputa da modalidade, que é composta por cinco provas: competições individuais e de equipe, ambas no masculino e no feminino, além da disputa de equipes mistas.

As disputas individuais iniciaram no dia 25 com a fase classificatória. Cada atleta tem direito a 72 disparos, divididos em 12 rodadas de 6. As pontuações obtidas são somadas e ranqueadas para definição do chaveamento das etapas de mata-mata de todas as cinco provas. A disputa por equipes considera o somatório das duplas, em que apenas as 16 melhores se classificam. Na fase eliminatória – em que cada partida será dividida em sets – vence o competidor que atingir primeiro os 6 pontos, com a seguinte divisão de flechas por categoria: três flechas/set no individual, seis flechas/set na disputa por equipes e quatro flechas/set no evento misto.

Neste guia, a Revista Marta apresenta um resumo com as informações mais importantes sobre o tiro com arco e o que esperar dessa modalidade e do desempenho dos representantes brasileiros na competição.

O tiro com arco nas Olimpíadas

O tiro com arco é um dos esportes mais antigos do mundo e surgiu como meio de sobrevivência para os povos da Antiguidade, sendo utilizado para caça e guerra. Sua ressignificação e evolução como modalidade esportiva levou à fundação de sua primeira organização, a Associação Nacional de Arqueirismo, em 1828 nos Estados Unidos. E mais tarde, em 1931, a Federação Internacional de Tiro com Arco, hoje a World Archery.

Paris também sediava o torneio quando o tiro com arco estreou nos Jogos Olímpicos em 1900. A modalidade voltou aos jogos mais três vezes – em St. Louis (1904), Londres (1908) e Antuérpia (1920) – antes de ficar fora das Olimpíadas por 52 anos. Foi reintroduzido nos Jogos de Munique no ano de 1972  e, desde então, permanece no torneio até hoje. Antes desse hiato, as disputas variavam quanto à distância e objetivo. A padronização do alvo a uma distância de 70 metros só veio a partir de sua reintrodução aos jogos.

O país mais tradicional nesse esporte, e também o mais vitorioso, é a Coreia do Sul. São 43 medalhas conquistadas no total, sendo 27 de ouro, 9 de prata e 7 de bronze. Já o Brasil, possui pouca tradição nessa modalidade olímpica e é um dos esportes em que o país ainda não conquistou medalhas. Em Tóquio, Marcus D’Almeida alcançou as oitavas de final, conquistando o melhor resultado de um arqueiro brasileiro na história do tiro com arco em Jogos Olímpicos. Assim como Ana Marcelle, que também chegou às oitavas no individual feminino.

Últimos campeões 

Nas últimas Olimpíadas, realizadas em Tóquio 2021, os sul-coreanos dominaram a modalidade, conquistando 4 ouros nas 5 modalidades disputadas:

  • República da Coreia – equipe feminina;
  • República da Coreia – equipe masculina;
  • An e Kim (República da Coreia) – equipe mista;
  • An San (República da Coreia) – individual feminino;
  • Mete Gazoz (Turquia) – individual masculino.

Ao longo de 2023, houveram várias competições de tiro com arco, incluindo o campeonato mundial. Sendo um dos principais torneios,  o  Mundial de Tiro com Arco foi realizado de 31 de julho a 6 de agosto de 2023, em Berlim, na Alemanha. Possíveis medalhistas em Paris 2024, Mete Gazoz, Eric Peters e Marcus D’Almeida formaram o pódio da competição.

Além disso, a Copa do Mundo de Tiro com Arco reúne os melhores arqueiros do mundo. Em 2023, a competição foi fundamental para os atletas que buscavam vaga nas Olimpíadas, já que distribuiu pontos para o ranking mundial. O torneio é dividido em quatro etapas, que foram realizadas na Turquia, na República Popular da China, na Colômbia e na França, com a final no México.

Nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, o Brasil conquistou uma medalha inédita, a prata no torneio de duplas mistas com Ana Clara Machado e Marcos D’Almeida, após derrota para os estadunidenses Brady Ellison e Casey Kaufhold.

Quem representa o Brasil na competição?

Foram classificados 128 atletas do tiro com arco, divididos igualmente entre homens e mulheres. A França, por ser o país sede do torneio, tem direito a 6 dessas vagas, três por gênero. As demais vagas são definidas através de outros torneios, classificatórias, pelo ranking mundial e vagas por universalidade, sendo duas por gênero. O Comitê Olímpico Brasileiro possui dois representantes nessa modalidade. Eles competirão no Recurvo Individual – masculino e feminino – e também farão dupla no misto.

Marcus D’Almeida e Ana Luiza Caetano em preparação para a disputa nas equipes mistas. Foto: Divulgação/Instagram @disparadalmeida

Marcus Vinicius D’Almeida, que já chegou a ser chamado de Robin Hood brasileiro, chega às Olimpíadas de Paris após se classificar na competição mais importante do ano de 2023, o Campeonato Mundial. A vaga foi garantida com a conquista do bronze, em uma vitória sobre o indonésio Arif Dwi Pangestu por 6 a 4. O atleta de 26 anos é atualmente o líder do ranking mundial de tiro com arco, o que faz dele o melhor arqueiro do mundo. Depois de ser 33º colocado na Rio 2016 e 9º em Tóquio, Marcus chega a Paris com grandes chances de alcançar sua melhor colocação em Olimpíadas.

A segunda atleta convocada é Ana Luiza Caetano, de 22 anos. Ela substituirá Ana Clara Machado, que havia conquistado a vaga nos Jogos Pan-Americanos com uma medalha de prata no individual. A decisão da mudança veio do próprio Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Ana Luiza é medalhista de ouro no Sul-Americano de 2023 e foi eleita como a melhor sub-21 pela World Archery das Américas, também no ano passado. Estreante nas Olimpíadas, ela ocupa a 63ª posição no ranking mundial da Federação Internacional de Tiro com Arco (World Archery).

A esperança de medalhas para o Brasil

O tiro com arco é um dos esportes que traz esperança de medalha para o Brasil. Isso porque Marcus D’Almeida é o favorito ao pódio na modalidade. A expectativa sobre o desempenho do arqueiro é alta, visto seus resultados nos últimos campeonatos disputados. Ao longo de 2023 e 2024, ele conquistou:

  • Prata na 1ª etapa da Copa do Mundo de Antalya, na Turquia;
  • Campeão da 2ª etapa da Copa do Mundo, realizada na República Popular da China;
  • Terceiro colocado na etapa de Paris da Copa do Mundo, etapa teste para as Olimpíadas;
  • Ouro no recurvo do The Vegas Shoot, em Las Vegas;
  • Bronze no Mundial realizado em agosto, em Berlim;
  • Prata na final por equipes (com Ana Machado) nos Jogos Pan-Americanos de Santiago (2023), apesar de ter caído nas oitavas de final no individual masculino;
  • Eleito o melhor atleta de 2023 no Prêmio Brasil Olímpico, do Comitê Olímpico Brasilerio (COB);
  • Eleito o melhor arqueiro do mundo pela Federação Internacional em 2023;
  • E em 2024 foi vice-campeão no final do Circuito Mundial Indoor, em Las Vegas.
Marcus é uma das esperanças de medalhas brasileiras em Paris 2024. Foto: Divulgação/Instagram @disparadalmeida

Outros destaques da modalidade

Mas para conquistar o lugar mais alto do pódio, o brasileiro precisará vencer outros grandes nomes do esporte. Um dos adversários é o turco Mete Gazoz, que eliminou o brasileiro no mundial disputado em Berlim e conquistou o ouro da competição. Além disso, Gazoz foi campeão do individual masculino em Tóquio  e, atualmente, ocupa a 4ª posição no ranking mundial da modalidade.

Outros participantes que são potenciais candidatos à medalha são: o sul-coreano Kim Woojin, atual 2º colocado no ranking e medalhista olímpico por equipes; Mauro Nespoli, da Itália, 5º no ranking e prata em Tóquio na prova individual; e Brady Ellison, dos EUA, já conquistou três medalhas olímpicas e é detentor do recorde mundial por ter atingido 702 pontos nos Jogos Pan-Americanos de 2019.

Entre as mulheres, Alejandra Valencia (México) e Maria Horackova (República Tcheca), respectivamente 3ª e 4ª no ranking mundial, são favoritas ao ouro. Horackova foi ouro no Mundial de 2023, seguida de Valencia, que foi prata. Ao lado delas, outras atletas também despontam como potenciais candidatas a conquista de medalhas olímpicas em Paris, como Casey Kaufhold (EUA), campeã do Pan-Americano em 2024, e Lim Sihyeon (Coreia do Sul), que três ouros em torneios asiáticos.

A Coreia do Sul é, sem dúvida, uma das grandes favoritas da competição, vindo de grandes resultados nas últimas Olimpíadas, em que conquistou 4 dos 5 ouros em disputa na modalidade, não subindo ao pódio apenas no individual masculino. Além disso, no Campeonato Mundial de 2023, também se consagraram campeões no recurvo masculino por equipe e no recurvo de equipe mista.

Curiosidades do tiro com arco

  • O detentor do recorde de medalhas conquistadas nesta modalidade é Hubert Van Innis. De acordo com informações oficiais das Olimpíadas, o arqueiro belga conquistou 10 medalhas, sendo 6 ouro, em apenas duas participações em Olimpíadas: em Paris 1900 e Antuérpia 1920.
  • O tiro com arco foi um dos primeiros esportes a permitir a participação de mulheres nos Jogos Olímpicos. Os eventos femininos foram apresentados em 1904 e 1908.
  • A flecha disparada pode alcançar cerca de 300 Km/h.
  • Este é o quarto esporte que ficou mais tempo fora dos Jogos Olímpicos, foram 52 anos entre Antuérpia 1920 e o retorno em Munique, em 1972. Nessa estatística, a  modalidade só fica atrás do golfe (112 anos), rúgbi (92), e tênis (64).
  • Neste ano, em Paris, os países com mais representantes no tiro com arco são: Coreia do Sul, França, Grã-Bretanha, Índia, México e Taiwan.
  • Já no primeiro dia de competições, a sul-coreana Lim Sihyeon, de 21 anos, quebrou um recorde mundial, marcando 694 pontos, dos 720 possíveis na etapa classificatória.
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Autor: coberturaparis2024

Turma de 31 estudantes de Comunicação da UFMG que integram a parceria entre a Revista Marta e a Rádio UFMG para a cobertura dos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.

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