Estreante olímpica será a única representante do Brasil no ciclismo BMX racing

Natural de Salvador, Paôla Reis Santos pode ganhar a primeira medalha do país na modalidade

Por Diego Benjamin Mendes de Carvalho

As radicais corridas de bicicross devem agitar a capital francesa na segunda semana dos Jogos Olímpicos. As primeiras rodadas do ciclismo BMX racing, tanto na categoria feminina quanto na masculina, vão ocorrer na quinta (1°de agosto), com as quartas de finais e as corridas de última chance. Já na sexta, 02 de agosto, serão disputadas as semifinais e as finais. 

As provas BMX são disputadas em um circuito fechado, em pistas de 400 metros com obstáculos, e o objetivo é percorrer o circuito no menor tempo possível. Os 24 competidores de cada categoria são divididos em três baterias com oito participantes cada. Nas primeiras corridas, os pilotos dão três voltas recebendo pontos após cada volta com base na ordem de chegada: um ponto para o primeiro lugar, dois pontos para o segundo lugar e assim por diante. Os pontos de cada ciclista são somados para obter uma pontuação combinada. Os 12 menores pontuados avançam e aqueles posicionados de 13 a 20 podem disputar as corridas de última chance, onde os quatro melhores avançam também. Nas semifinais, há duas baterias de oito ciclistas. Os oito ciclistas com os menores pontos avançam para a final: uma única corrida que premia quem chegar primeiro. 

A  equipe da Revista Marta fez um resumo com histórico e curiosidades desse esporte não tão famoso.

Resumo da modalidade

O Ciclismo BMX Racing possui uma participação relativamente recente no mundo olímpico, entretanto sua existência é mais longínqua. Acredita-se que a prática de corridas com bicicletas-motocross tenha surgido em 1957 na Holanda, onde os adolescentes competiam informalmente entre si. Durante os anos 1970, nos Estados Unidos, jovens passam a montar competições e equipes para o esporte na Califórnia, trazendo popularidade e fãs amantes da adrenalina. Em 1993, o BMX passa a ser integrado na União Ciclística Internacional (UCI), chamando a atenção do Comitê Olímpico Internacional (COI). Contudo, foi somente em 2008, nos Jogos de Pequim, que a modalidade estreou junto com uma única categoria: Racing.

O BMX Racing é muito famoso ao redor do globo, mas em especial nos países europeus e americanos como nos EUA, que possui fortes raízes históricas e diversos campeonatos do esporte como o USA BMX National Series. Em países como França, Alemanha, Nova Zelândia e Bélgica, a popularidade vem da forte tradição do ciclismo. Já a Holanda e o Canadá utilizam de suas belas paisagens para investir e atrair ciclistas do bicicross. Esses esforços são recompensados, já que dentro do Campeonato Mundial de BMX, a França acumula a maior quantidade de medalhas (114), enquanto os EUA (106), Holanda (56)  e Austrália (49) seguem logo atrás.

No Campeonato Mundial de BMX, pináculo competitivo do esporte, o Brasil já foi país-sede duas vezes e conquistou uma medalha de ouro e quatro de bronze. Um dos maiores nomes nacionais do BMX Racing masculino, Renato Rezende, já acumula dois ouros no Pan-Americano, outro Mundial, e um ouro e uma prata nos Jogos Sul-Americanos. Já um dos maiores nomes femininos, Paôla Reis Santos possui dois ouros nos Jogos Pan Americanos Junior e duas pratas no Pan Americano. Na Copa Latino-Americana de Ciclismo BMX de 2023, algumas brasileiras conquistaram seis dos oito títulos em disputa, como a própria Paola, Caroline Vitoria Rossi, Priscilla Andreia Stevaux e Eduarda Karoline. E no mesmo evento Bruno Andrade levou o ouro e Samuel Pereira, o bronze.

Até hoje nenhum representante brasileiro do ciclismo BMX Racing ganhou uma medalha olímpica, torcemos para que nesse ano o padrão seja quebrado.

As frenéticas partidas de BMX Racing em Paris serão disputadas no Estádio de BMX da cidade Saint-Quentin-en-Yvelines.

Últimos campeões olímpicos

Tokyo (2020)

  • Niek Kimman (Holanda) – Individual Masculino
  • Bethany Shriever (Reino Unido) – Individual Feminino

Rio (2016)

  • Connor Fields (EUA) – Individual Masculino
  • Mariana Pajón (Colômbia) – Individual Feminino

Londres (2012)

  • Maris Strombergs (Letônia) – Individual Masculino
  • Mariana Pajón (Colômbia) – Individual Feminino

Resultados do último ano

Neste ano, o pódio masculino da Copa do Mundo BMX Supercross foi montado respectivamente por Izaac Kennedy (Austrália), Cédric Butti (Suíça) e Niek Kimmann (Holanda). Kimman também apareceu no top 10 do ranking individual da União Ciclística Internacional (UCI) em 2024 (4º) e 2023 (8º) e levou para casa o prata do BMX Rock Hill deste ano. Cédric Butti  também entrou no ranking individual em quinto lugar. Outro bom termômetro olímpico do ciclismo de bicicross, o Campeonato Mundial de BMX, teve como vencedores Joris Daudet (França), Niek Kimmann e o favoritíssimo Sylvain André (França). Daudet posicionou-se no primeiro lugar do ranking individual deste ano.

Já o pódio feminino da Copa do Mundo foi composto por Saya Sakakibara (Austrália), Manon Veenstra (Holanda) e Alise Willoughby (EUA), nessa ordem. Sakakibara e Willoughby despontaram no ranking individual, já que a australiana ficou em 2º lugar (2023) e 1º lugar (2024), enquanto a americana, 5º lugar (2023) e 2º lugar (2024). Alise tem o ouro da edição atual do Mundial, seguida pela prata de Zoé Claessens (Suíça) e o bronze de Daleny Vaughn (EUA). Vaughn também disputa as Olimpíadas e aparece no ranking de 2024 (9º) juntamente com sua compatriota Felicia Stancil (5º). Já Zoé acumula ouros em competições europeias desde 2021.

2023 World Cup Overall Champion😨🏆

…and winning back to back finals🥇🥇🥇, having the fastest lap of the weekend and my @romainmahieu just being unstoppable. 

I couldn’t have imagined achieving any of these 6 months ago.
This season on paper could seem smooth sailing for me but it sure came with a lot of challenges. Ones that made me self doubt to the point that I thought I wasn’t good enough to race.
I learnt the most from going through this hard sh*t. And honestly as hard as it was, I am so grateful. Because without those moments, there is no doubt I wouldn’t be in this position right now. 

It’s seriously surreal 🥹

Thanks @navadanet 📸
Saya Sakakibara comemorando sua vitória na Copa do Mundo BMX 2023. Foto:Navada Photography/NicovanDartel.

O Brasil tem classificados? 

Sim, infelizmente o Brasil encaminhou somente uma vaga ao todo neste ano com Paôla Reis na modalidade feminina. 

A classificação é bem simples. No BMX Racing disputam 48 atletas divididos ao meio por gênero. Dentro das 24 vagas disponíveis por modalidade, 17 são distribuídas conforme o ranking olímpico de nações, que pontua de acordo com o desempenho dos atletas de cada nação durante diversos eventos desde 1º de Agosto de 2022. Os dois países mais bem colocados têm direito a três cotas por gênero, o terceiro, quarto e quinto lugar ficam com duas cotas por gênero cada e, do sexto ao décimo, somente uma.

O Brasil não garantiu nenhuma cota por classificar-se na 12º posição no ranking feminino e na 15º posição do masculino. Contudo, existe uma única cota por gênero para eventos continentais na América, na Ásia e na África cada e foi aí que Paôla conquistou pela primeira vez uma vaga olímpica. Em maio do ano passado, a baiana ganhou a medalha de ouro do Pan-Americano de BMX Racing nos instantes finais, contra a canadense Molly Simpson. Outra boa notícia foi o terceiro lugar do Pan-Americano ocupado pela também brasileira Priscilla Stevaux que já disputou Olimpíadas anteriores.

Campeã Pan Americana de BMX 2023.🎖️ 

Orgulhosa por estar representando meu País🇧🇷Obrigada a todos pela torcida!😚
. 
@sudesbesporte @leobmx01  @flyracingbike @stm.cf @chasebicycles @fbciclismooficial 
#cbcciclismo #paolareis78 #timebrasil🇧🇷
Molly Simpson (à esquerda), Paôla Reis (no centro) e Priscilla Stevaux (à direita) em foto no pódio do Campeonato Pan Americano 2024. Foto: Divulgação/Instagram Paôla Reis

O Brasil tem candidatos à medalha? 

Apesar do desempenho excepcional de Paola Reis no Pan-Americano do Equador, premiação da qual ela já é sete vezes campeã, e no Campeonato Brasileiro de BMX Racing 2023, ela não é favorita para o pódio. O país nunca ganhou nenhuma medalha na categoria e seu desempenho em geral é mediano.

O Brasil competiu nas categorias masculinas nas últimas três edições dos Jogos Olímpicos (Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020). O único representante nas três vezes foi Renato Rezende, com o melhor desempenho sendo a 14º posição em Tóquio. Em Londres ele garantiu a 32º posição e no Rio chegou até as quartas de final, ficando com a 16º posição no ranking geral.

Já na categoria feminina, tivemos Priscilla Steveux em Tóquio arrancando a semifinal e a 22º vaga da pontuação geral e também no Rio, em último. Em Londres, tivemos como representante feminina Squel Stein que chegou à semifinal, mas sofreu uma queda que resultou na sua eliminação.

Destaques da modalidade

Um dos maiores destaques é Mariana Pajón. A colombiana não carrega o título de “Rainha do BMX” à toa, já acumula um total de 15 medalhas em eventos mundiais. Sendo três somente nos Jogos Olímpicos, a única do esporte com esse feito. Espera-se que ela estenda ainda mais esse recorde esse ano. O favorito da casa é Sylvain André, que chegou em 4º lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Outros franceses que possuem altas expectativas para o pódio são Romain Mayet e Eddy Clerte que também participaram da edição passada. A maior alegria dos franceses seria o trio dominando o pódio masculino.

Outros atletas que devemos ficar de olho são os últimos medalhistas de ouro olímpicos: o neerlandês Niek Kimman e a britânica Bethany Shriever. A australiana Saya Sakakibara vem acumulando ouro na Copa do Mundo BMX desde o ano passado e é uma ótima aposta para o feminino também.

No mais, Laura Smulders (Holanda), Zoe Claessens (Suécia) e Cédric Butti (Suécia) são nomes para ficar de olho.

Mariana Pajón após ganhar a Copa do Mundo de 2013.  Foto via Wikimedia Commons

Curiosidades do ciclismo BMX

As bicicletas de BMX podem ser encontradas de tamanhos variados. As menores têm rodas de até 45 cm e as maiores, 60 cm. A maior bike já criada foi uma tentativa frustrada de entrar no Guinness Book e possuía cerca de 3,3 metros. 

Para ser ciclista de BMX é preciso encarar o medo de altura. O começo de uma rampa de uma pista tem oito metros de altura em média, a altura de dois elefantes-da-savana!

No mundo do Ciclismo BMX existem diversas manobras radicais. Por exemplo, um “manual” é quando o ciclista toca a rampa somente com a roda traseira sem pedalar para ganhar mais velocidade. Já “wheelie” seria empinar a roda dianteira e pedalar para frente e um “bunny hop” seria sair do chão elevando a dianteira seguida da traseira mas não ao mesmo tempo.

Por fim, o BMX Racing pode ainda ser uma prática desportiva muito nichada, porém com uma legião de jovens fãs e atletas com um grande senso de comunidade e unidos por um esporte repleto de paixão, adrenalina, dinamismo e ação.

Avatar de Desconhecido

Autor: coberturaparis2024

Turma de 31 estudantes de Comunicação da UFMG que integram a parceria entre a Revista Marta e a Rádio UFMG para a cobertura dos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.

Deixe um comentário