
Por Giovanna Rafaela Castro
Menos de um mês depois do famoso Tour de France, os ciclistas estão de volta ao país europeu. Durante o primeiro final de semana de agosto (3 e 4), 180 atletas se reunirão na Praça Trocadéro, aos pés da Torre Eiffel, para disputar a medalha olímpica de ciclismo de estrada, em Paris 2024. Durante os jogos, os competidores disputarão duas modalidades: a corrida e o contrarrelogio. Na primeira, é a corrida do jeito que conhecemos, todos largam juntos e quem cruzar a linha de chegada primeiro ganha. Já a segunda é diferente. Os competidores largam em intervalos de 90 segundos. Ganha quem fizer o percurso no menor tempo. O Brasil está representado por dois atletas, Tota Magalhães e Vinicius Rangel.
História e regras
O ciclismo de estrada, modalidade mais antiga do ciclismo, teve sua primeira competição oficial em 31 de maio de 1868, no Parc de Saint-Cloud, em Paris, França. O britânico James Moore foi o vencedor inaugural dessa corrida histórica. Apenas um ano depois, Moore novamente fez história ao vencer a primeira corrida entre duas cidades, completando o trajeto de aproximadamente 123 km entre Paris e Rouen em 10 horas e 25 minutos.
Este esporte também figura entre as modalidades originais dos Jogos Olímpicos, fazendo sua estreia na primeira Olimpíada da Era Moderna, realizada em Atenas, em 1896. Na competição de estrada, o grego Aristides Konstantinidis conquistou a medalha de ouro, enquanto August von Gödrich, da Alemanha, levou a prata e o britânico Edward Battell ficou com o bronze. No contrarrelógio, o francês Paul Masson subiu ao topo do pódio, conquistando a primeira colocação, além de garantir outros dois ouros em diferentes provas de ciclismo na mesma edição. O grego Stamatios Nikolopoulos levou a prata, e Adolf Schmal, da Áustria, completou o pódio com o bronze.
Apesar de sua estreia promissora, o ciclismo de estrada não se firmou imediatamente como um esporte permanente nas Olimpíadas, ficando ausente nas edições de 1900, 1904 e 1908, em Paris, Saint Louis e Londres, respectivamente. Foi somente nos Jogos de Estocolmo, em 1912, que o ciclismo retornou, com a modalidade de contrarrelógio.
Provas de Corrida e Contrarrelógio
O ciclismo de estrada se divide em duas categorias principais: a corrida e o contrarrelógio. Na corrida, a prova é disputada por equipes que podem ter de quatro a dez membros; no entanto, durante os Jogos Olímpicos, o número é limitado a quatro. Os integrantes da equipe trabalham juntos para proteger seu líder, traçando estratégias para que ele se desgaste o mínimo possível e possa ter chances de vitória na etapa final da corrida. Todos os competidores largam ao mesmo tempo, e o vencedor é aquele que cruzar a linha de chegada primeiro.
Nos Jogos Olímpicos, apesar da competição ser tecnicamente individual, os países com maior número de atletas frequentemente empregam estratégias de equipe para aumentar suas chances de conquistar medalhas.
As distâncias dos percursos costumam variar, ultrapassando os 200 km para os homens e mais de 100 km para as mulheres. Na edição de Paris 2024, por exemplo, o circuito masculino será de 273 km, enquanto o feminino terá 158 km.
No contrarrelógio, a competição é puramente individual, com a formação de pelotões sendo proibida. Além disso, é vetado aos ciclistas aproveitar o vácuo uns dos outros, sendo obrigatório manter uma distância mínima de dois metros entre cada competidor. Os participantes partem em intervalos de 90 segundos, e vence quem completar o percurso no menor tempo possível. As distâncias dos contrarrelógios geralmente variam entre 40 km e 50 km para os homens, e entre 20 km e 30 km para as mulheres.
Últimos campeões olímpicos
Corrida Masculina: Richard Carapaz (Equador)
Corrida Feminina: Anna Kiesenhofer (Áustria)
Contrarrelógio Masculino: Primož Roglič (Eslovênia)
Contrarrelógio Feminino: Annemiek van Vleuten (Holanda)
Últimas corridas
O ciclismo mundial em 2023/24 foi marcado por conquistas significativas nas Grandes Voltas, começando pelo Tour de France, onde o dinamarquês Jonas Vingegaard, da equipe Jumbo-Visma, sagrou-se campeão. No Giro d’Italia, o esloveno Primož Roglič, também representando a Jumbo-Visma, levou o título. Já na edição de 2023 da Vuelta a España, o norte-americano Sepp Kuss subiu ao lugar mais alto do pódio, novamente confirmando a força da equipe Jumbo-Visma, que dominou essas competições.
Nas clássicas de 2024, a competição foi igualmente intensa. Na Milão-Sanremo, o ciclista da Holanda, Mathieu van der Poel, conquistou a vitória com sua equipe Alpecin-Deceuninck. No Tour de Flandres (Ronde van Vlaanderen), o esloveno Tadej Pogačar, da UAE Team Emirates, emergiu como vencedor. A Paris-Roubaix viu o neerlandês Dylan van Baarle, da Jumbo-Visma, cruzar a linha de chegada em primeiro lugar. Na Liège-Bastogne-Liège, foi o belga Remco Evenepoel, da Soudal-Quick Step, que conquistou o título, reafirmando sua reputação como um dos melhores ciclistas de provas de um dia. Para finalizar a temporada de clássicas de 2023, Tadej Pogačar voltou a brilhar ao vencer o Il Lombardia, novamente representando a UAE Team Emirates.
Nas outras corridas significativas do calendário ciclístico de 2024, o Critérium du Dauphiné foi vencido pelo dinamarquês Jonas Vingegaard, consolidando mais uma vitória para a equipe Jumbo-Visma. O Tirreno-Adriático também teve como campeão o esloveno Primož Roglič, confirmando seu domínio nas corridas por etapas para a mesma equipe. Na Amstel Gold Race, foi Tadej Pogačar, da UAE Team Emirates, quem levou o troféu para casa, fechando a lista dos grandes campeões do ano.
Atletas brasileiros
A seleção brasileira de ciclismo de estrada para as Olimpíadas contará com dois nomes de peso: Tota Magalhães, atual campeã brasileira, e Vinicius Rangel, campeão nacional de 2022. Esses atletas foram escolhidos para representar o país em uma disputa que vai além do desempenho individual, dependendo de uma série de critérios técnicos e do ranking das nações da UCI (Union Cycliste Internationale), a entidade que regula o ciclismo mundial.
Diferentemente de outros esportes, as vagas olímpicas no ciclismo de estrada são atribuídas ao país, e não diretamente aos atletas. Isso significa que, mesmo que um ciclista tenha conquistado a vaga para seu país, ele só poderá participar dos Jogos Olímpicos se atender aos critérios estabelecidos pela Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC). Foi exatamente o que aconteceu na seleção masculina. A vaga olímpica foi conquistada graças ao desempenho de Nicolas Sessler, que garantiu um valioso sexto lugar no Campeonato Pan-Americano de 2023. No entanto, a CBC optou por selecionar Vinicius Rangel para ocupar essa vaga, com base em sua experiência e histórico competitivo.
No ciclismo feminino, Tota Magalhães conseguiu assegurar sua vaga olímpica diretamente, graças à sua posição no ranking da UCI, que reflete sua consistente performance ao longo da temporada. Como campeã nacional, Tota Magalhães não só trouxe prestígio para o ciclismo brasileiro, mas também garantiu sua participação em um dos maiores palcos esportivos do mundo, consolidando sua posição como uma das principais ciclistas do país.
Mesmo com a classificação, os brasileiros não são favoritos para medalha.
Destaques da modalidade
Nos Jogos Olímpicos, a Holanda se destaca como o país com o maior número de medalhas de ouro no ciclismo de estrada, totalizando 10. Já no quadro geral de medalhas, a Itália lidera com um total de 20, sendo nove de ouro, sete de prata e quatro de bronze. A Holanda e a França vêm logo em seguida, com 18 medalhas cada: a Holanda com 10 ouros, cinco pratas e três bronzes, e a França com oito ouros, quatro pratas e seis bronzes.
No cenário individual, a americana Kristin Armstrong é um nome que se sobressai. Nenhum outro ciclista, homem ou mulher, conquistou mais ouros do que Armstrong, que triunfou nas Olimpíadas de Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016, garantindo seu lugar no topo do pódio em três edições consecutivas.
Sem a presença do esloveno Tadej Pogačar, vencedor do Tour de France em 2024, o belga Wout Van Aert desponta como um dos principais favoritos na disputa de ciclismo. Van Aert, que conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio, está preparado para competir ao lado de Mathieu van der Poel, da Holanda, atual campeão mundial, aumentando ainda mais as expectativas para a corrida. A ausência de Pogačar abre espaço para uma batalha intensa entre esses dois gigantes do ciclismo.
A torcida francesa estará especialmente ansiosa, com a esperança de que Julian Alaphilippe, ex-campeão mundial, possa brilhar em Paris. Alaphilippe lidera uma equipe forte composta por seus compatriotas Christophe Laporte, Valentin Madouas e Kévin Vauquelin, que chegam embalados pela recente vitória de Vauquelin no Tour de France 2024.
No contrarrelógio masculino, o belga Remco Evenepoel, atual campeão mundial, é considerado o favorito absoluto. Conhecido por sua habilidade excepcional no contrarrelógio, Evenepoel é também um sério competidor na prova de resistência. Contudo, ele enfrentará forte concorrência de Filippo Ganna, da Itália, que recentemente conquistou a medalha de prata no último campeonato mundial de contrarrelógio, e de Josh Tarling, da Grã-Bretanha, medalhista de bronze no Mundial de 2023. Essa competição promete ser uma verdadeira disputa de gigantes do ciclismo mundial.
Na prova de resistência feminina, Lotte Kopecky, a atual campeã mundial e vencedora da Paris-Roubaix 2024, também conhecida como o “Inferno do Norte”, é a principal favorita ao título. Sua vitória este ano consolidou sua posição como uma das ciclistas mais formidáveis do mundo. No entanto, Elisa Longo Borghini, da Itália, que conquistou o bronze nos Jogos de Tóquio e acumulou vitórias impressionantes na temporada de 2024, está bem posicionada para desafiar Kopecky. A competição feminina promete ser ainda mais acirrada com a participação do forte time da Holanda, que inclui Ellen van Dijk, Demi Vollering, Marianne Vos e Lorena Wiebes, todas ciclistas de renome e prontas para enfrentar qualquer desafio.
Na disputa feminina de contrarrelógio, a americana Chloé Dygert, atual campeã mundial, é uma das grandes favoritas. No entanto, Ellen van Dijk, dos Países Baixos, tricampeã mundial, também se destaca como uma forte candidata. Van Dijk, que venceu o título pela última vez em 2022, tem a vantagem de competir em um percurso com poucas subidas, favorecendo seu estilo de corrida potente e constante. A expectativa é de que essa competição seja uma demonstração espetacular de habilidade e resistência, com Dygert e Van Dijk protagonizando uma batalha acirrada pela supremacia no contrarrelógio feminino.
Curiosidades
Apesar de ser um esporte praticado desde o século 19, as competições femininas de ciclismo de estrada só começaram em meados do século 20, em 1951, na França, 83 anos depois da primeira competição oficial masculina. Nas Olimpíadas, as mulheres só foram estrear nos jogos de Los Angeles 1984. Exatamente 88 anos depois da participação masculina na primeira Olimpíada.
Pela primeira vez na história de uma Olimpíada, homens e mulheres terão o mesmo trajeto no contrarrelógio.
A bicicleta utilizada no ciclismo de estrada possui todo um design e material especiais: é feita de fibra de carbono e não costuma pesar mais do que 7 kg. O guidão também é mais baixo que os das bicicletas comuns, favorecendo a aerodinâmica, e os pedais de encaixe deixam os pés bem fixados na bicicleta.
A roupa do ciclista também é especial: as camisas são feitas com um material leve e o short é produzido com lycra, para facilitar a movimentação, a respiração da pele e diminuir o atrito com o ar.