por Duda Castro, estudante de Jornalismo da UFMG
Com 69 medalhas e uma campanha marcada pela superação, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conquistou o título geral dos Jogos Universitários Mineiros (JUMs) em 2025. A vitória coroa o esforço de atletas que dividiram suas rotinas entre estudos, treinos noturnos e a paixão pelo esporte, reafirmando o papel do esporte universitário como motor de saúde mental, pertencimento e formação cidadã.
Entre os dias 18 e 21 de abril, Santa Rita do Sapucaí, localizada no Sul de Minas Gerais, recebeu cerca de 1.200 atletas de 25 instituições de ensino para mais uma edição dos JUMs. Além das medalhas e dos pódios, o evento reuniu histórias de esforço, integração e superação que reafirmam a força do esporte no ambiente acadêmico.
A competição coroou o projeto coletivo de fortalecimento do esporte universitário na UFMG, e a conquista de Campeã Geral marca o retorno da Universidade ao topo do pódio estadual e evidencia o trabalho de uma comunidade que acredita no esporte como ferramenta de transformação.
Quem vive os JUMs de perto reconhece que a competição vai além do esporte: os jogos são parte fundamental da cultura universitária mineira. Criados para fomentar a prática esportiva e promover a mobilização estudantil, o torneio também serve como seletiva para o maior evento universitário do país, os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs).
Para a comunidade universitária, em especial aos estudantes, participar dos JUMs significa mais do que disputar medalhas: é a oportunidade de representar a Universidade, superar desafios pessoais e construir memórias que transcendem a vida acadêmica.
Medalhas, recordes e uma conquista histórica
O desempenho da UFMG foi expressivo: 69 medalhas conquistadas, sendo 46 na natação, 13 no atletismo (contando as etapas de revezamento) e títulos importantes em modalidades coletivas como handebol masculino, futsal masculino, basquete masculino e feminino e vôlei feminino.
Na natação, os estudantes Julia Gurgel, da Medicina, e Matheus Henrique, da Odontologia, brilharam com cinco medalhas cada. Julia conquistou três ouros e duas pratas, enquanto Matheus faturou três ouros, uma prata e um bronze.
Já no atletismo, destaque para Acsa Soares, Letícia Castro, Rebecca Melo, Tarcila Monici e Gabriel Andrade. Acsa, além de conquistar medalhas nos JUMs, garantiu vaga para disputar o JUBs na prova dos 100 metros rasos, coroando uma trajetória de dedicação ao esporte universitário. “Participar do JUMS e sair com medalhas foi MUITO gratificante! Foi o resultado de dois anos de dedicação incansável à prática do atletismo universitário, mesmo em meio ao caos da rotina!”, celebra a atleta.
O vôlei feminino, por sua vez, ficou marcado por um dos momentos mais emocionantes dos jogos: perdendo o terceiro set por 24 a 20, a equipe da UFMG conseguiu uma virada histórica para vencer por 27 a 25, com atuação decisiva de Beatriz Luiza, estudante de Engenharia Mecânica. A vitória por 3 sets a 0 contra a UFU simbolizou o espírito de superação da delegação.
Já no futsal masculino, a história foi de revanche. Após perder para a UFU na fase de grupos, a UFMG venceu os rivais na final por 4 a 2, garantindo o ouro com emoção extra.
Treinos e superação: a fórmula da campeã
Se as conquistas nas quadras e pistas foram notáveis, os bastidores revelam ainda mais o tamanho da conquista. Como relatou Sarah Nery, diretora de equipes da Liga das Atléticas da UFMG (LAU/UFMG) e integrante da Atlética Hércules (Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional), os atletas encararam uma rotina de treinos intensos em condições adversas.
“Foram noites em claro, treinos em horários difíceis – das 21h30 às 22h30 -, muitas vezes com recursos limitados, como uma única bola ou uma única tabela”, relembra a estudante. O relato escancara a falta de políticas públicas específicas para o esporte universitário como um obstáculo constante, mas reafirma a força que a equipe encontrou na coletividade.
O Centro Esportivo Universitário (CEU) foi fundamental para viabilizar a logística de participação dos estudantes, mas a estrutura ainda é insuficiente para atender a toda demanda. A conquista, segundo Sarah, é fruto de um trabalho iniciado em gestões anteriores da LAU, que mantiveram viva a chama do esporte universitário mesmo em cenários adversos.
O esporte universitário pede mais espaço
Apesar do sucesso no JUMs, os desafios enfrentados pelo esporte universitário permanecem. Cláudio Barbosa, técnico desportivo da UFMG, apontou a ausência de uma política esportiva consolidada dentro das instituições de ensino superior como um dos principais entraves.
“Os principais desafios envolvem a falta de estrutura institucional, como ausência de um setor específico para coordenar o esporte universitário, escassez de horários e espaços adequados para treinos, barreiras financeiras para participação em eventos, e a invisibilidade da pauta esportiva nas políticas de permanência”, afirmou Cláudio.
Além das limitações estruturais, o financiamento é outro obstáculo. Muitos estudantes precisam arcar com custos próprios para participação em campeonatos, o que cria barreiras e limita a democratização do acesso ao esporte. “Para garantir acesso amplo e democrático, é essencial investir em políticas públicas, regulamentações claras, apoio financeiro e logístico, e sobretudo em uma gestão articulada entre diferentes setores da universidade”, defendeu o técnico.
Além das quadras: saúde mental, socialização e formação pessoal
Mais do que medalhas, o esporte universitário proporciona benefícios fundamentais para a vida dos estudantes. A prática esportiva contribui para a saúde mental, o desenvolvimento de redes de apoio e o fortalecimento do sentimento de pertencimento.
Segundo Cláudio, o esporte é um dos instrumentos mais eficazes para combater sintomas de estresse, ansiedade e depressão, tão presentes na vida acadêmica. “O esporte proporciona momentos de pausa e desconexão das pressões acadêmicas, ao mesmo tempo em que estimula a produção de endorfinas e outros neurotransmissores ligados à sensação de prazer e equilíbrio emocional”, destaca.
Para Acsa Soares, representante do atletismo e fisioterapeuta, o esporte universitário foi determinante para sua permanência na UFMG. Natural do Pará, ela chegou a Belo Horizonte sozinha.
“Longe da família e sem ninguém conhecido, estar em uma equipe esportiva foi um presente gigante. Me deu forças para continuar. Hoje, posso dizer que o treino é o melhor momento da minha semana! É onde descanso a cabeça, fico em paz, me divirto e aprendo muito!”, relata Acsa.
Além disso, a experiência como atleta contribuiu diretamente para sua formação como fisioterapeuta. “Estar do outro lado da moeda, como atleta, me faz uma fisioterapeuta melhor!”, avalia.
Ela está na modalidade tem dois anos e tem se apaixonando cada vez mais. “Desde 2023, foram mais de 20 medalhas em competições universitárias, representando a atlética da EEFFTO e a UFMG.” O entusiasmo de Acsa pelo atletismo é tão intenso que, em 2024, ela viajou a Paris para assistir às provas olímpicas da modalidade.
O papel da UFMG no fortalecimento do esporte feminino
O protagonismo feminino foi uma das marcas da campanha da UFMG nos JUMs. A gestão da Liga das Atléticas, composta exclusivamente por mulheres, simboliza a ampliação de espaços de liderança no esporte universitário.
“Ter uma gestão composta só por mulheres é falar sobre qual nosso lugar perante a sociedade e a universidade, é mostrar que o esporte universitário é um lugar para além da inclusão, um lugar de revolução, um lugar onde há abertura para discussões e mudanças”, defende Sarah Nery.
Atualmente, a diretoria da LAU é composta pelas estudantes: Ana Luísa (Presidente da Atlética MEDUSA – Farmácia e Biomedicina), Ana Luiza (Diretora Financeira da Atlética FÊNIX – Saúde), Sarah Nery (Diretora de Equipes da Atlética HÉRCULES – EEFFTO), Isabella Maia (Diretora de Marketing da Atlética FÊNIX – Saúde) e Marina Guerra (Diretora de Esportes da Atlética AALEB – Letras, ECI, Belas Artes e Música).
Expediente
Apuração e redação: Duda Castro
Edição: Olívia Pilar
Coordenação: Ana Carolina Vimieiro