Brasil voltará a ter torneio da elite do tênis feminino: o que esperar do WTA SP Open?

Nesta quarta-feira, Alexandre Cossenza, do Uol Esporte, noticiou em primeira mão que o Brasil voltará a ter um WTA 250 em São Paulo já em 2025. Logo depois, a informação foi confirmada, pela própria IMM, que irá realizar o torneio, e o evento já consta no calendário oficial da WTA. Será o primeiro torneio deste nível no país desde 2016, quando o Rio Open ainda tinha chave feminina e o WTA de Florianópolis era 250.

O evento ocorrerá entre 6 e 14 de setembro (qualificatório nos dias 6 e 7 e chave principal a partir do dia 8), logo na sequência do US Open. Será disputado em quadra dura e ocorrerá no Parque Villa-Lobos, parque público da capital paulista no bairro Alto de Pinheiros. Terá 32 tenistas na chave principal, 24 no qualificatório e 16 nas duplas. O torneio será realizado pela IMM em parceria com o ICT, entidade que capta dinheiro público via leis de incentivo para o Rio Open. 

Ao que se sabe, a data pertence à IMG e à Mubadala Capital e foi alugada à IMM. A IMM é uma espécie de filiada local brasileira da IMG, uma empresa que gerencia atletas, opera eventos mundiais e comercializa direitos de transmissão esportiva. A IMG tem larga atuação no mundo no tênis e a IMM é a dona do Rio Open, torneio de nível 500 da ATP, realizado no Brasil em fevereiro.

Um torneio da elite da WTA é um antigo desejo das principais tenistas brasileiras, principalmente Beatriz Haddad Maia. Recentemente, Bia jogou etapas da Billie Jean King Cup no Brasil e pediu, pessoalmente, para que o evento fosse para São Paulo, onde a tenista treina e vive. Em abril de 2024, quando o Brasil enfrentou a Alemanha pela BJK Cup com um Ibirapuera lotado, a tenista pediu apoio ao tênis feminino e um esforço coletivo para que mais eventos ocorram no país. Na ocasião, fazia oito anos que Bia não atuava na cidade em que nasceu e foi criada. 

Informações do torneio no site da WTA

Políticos e dirigentes de entidades e empresas ligadas ao tênis correram para se pronunciar nos últimos dias. Alan Adler, CEO da IMM, disse que o evento ocorrerá com o apoio da Prefeitura de São Paulo e de grandes marcas. O prefeito da cidade afirmou que São Paulo criou um ambiente propício para a atração de negócios, conquistando mais um evento internacional. O presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Alexandre Farias, destacou que o evento é um passo histórico e parabenizou a IMM por acreditar na força do tênis feminino. Já Danilo Gaino, presidente da Federação Paulista de Tênis (FPT), destacou que São Paulo sempre teve um papel importante na história do tênis e que o “SP Open chega para somar forças nesse movimento de crescimento e valorização do esporte feminino no país”.

Mas, para além disso, o que nós, fãs da modalidade, podemos esperar do evento?

Tenistas brasileiras e sulamericanas

A primeira grande expectativa é que sim, os principais nomes do tênis feminino brasileiro, disputem as chaves de simples e duplas. Bia Haddad deve marcar presença assim como Luisa Stefani, os dois principais nomes da modalidade no país

Outras jogadoras com ranking suficiente devem também entrar na chave principal ou no qualificatório como Laura Pigossi, Carol Meligeni e Ingrid Martins. É provável que atletas que não têm ranking suficiente recebam wild cards como ocorre anualmente com o Rio Open. Em 2025, por exemplo, João Fonseca, Thiago Monteiro e Fernando Meligeni receberam wild cards para a chave principal. Gustavo Heide, Karue Sell e João Lucas Reis receberam para o qualificatório. O mesmo deve ocorrer com atletas como Ana Candiotto e Luiza Fullana.

É provável também que tenistas da América Latina participem da competição, principalmente as colombianas e argentinas. Apesar do piso não ser o preferido em geral das tenistas sulamericanas, é provável que nomes como Camila Osório (51ª no ranking da WTA), Emiliana Arango (84ª), Solana Sierra (108ª) e Maria Lourdes Carle (119ª) estejam por aqui. Como não há tantas mulheres sulamericanas no top 100 como no caso dos homens, provavelmente o número de atletas sulamericanas pode ser inferior ao do Rio Open.

Sem jogadoras do top 30

Há uma dificuldade, porém, para a presença de outras tenistas do top 30 pois ocorre no mesmo período o Aberto de Guadalajara, no México, torneio de nível 500 da WTA. 

Este torneio, além de mais próximo dos EUA e mais “no caminho” para a sequência da temporada (logo depois, temos uma gira na Ásia, com torneios em Seul e na China), deve ter uma chave forte, o que torna improvável a vinda de tenistas do top 50 de simples além de Bia para o Brasil. Para completar, a WTA possui regras que dificultam a presença de tenistas do top 30 em torneios do nível 250

Em geral, tenistas do top 10 não podem jogar torneios de nível 250. Caso não haja outro torneio de nível superior ocorrendo no mesmo período, a WTA autoriza uma única tenista do top 10 a jogar a chave de um torneio 250. Se houver torneio, uma única atleta do top 10 pode jogar o torneio mas ele “perde” o direito a outras exceções como ter a jogadora vencedora do ano anterior na chave e/ou uma jogadora local do top 30. 

No caso de tenistas entre o 11 e o 30 do ranking, elas podem jogar livremente torneios 250 se não houver outro superior no mesmo período. Contudo, quando há outra competição, as duas exceções mencionadas acima são aplicadas: se a jogadora for a vencedora do ano anterior do torneio ou se o torneio ocorrer no país de origem da jogadora ela pode disputa-lo. 

No caso das 11-30, o torneio pode aceitar uma jogadora em cada condição (no simples e duplas) e, caso não haja atletas nessas condições interessadas em entrar na chave principal, daí uma jogadora adicional entre o 11 e o 30 pode entrar na chave principal.

Essas regras tornam altamente improvável a presença de uma atleta do top 10 no torneio pois elas precisariam abrir mão do torneio 500 de Guadalajara e significaria que, por exemplo, Bia Haddad, mantendo-se dentro do top 30, não estaria no torneio (já que ao trazer uma top 10, o SP Open não poderia usar a exceção da jogadora local). No caso do top 30, também é improvável que tenhamos outra tenista dessa categoria pois o torneio não tem “defending champion” e Bia Haddad, mantendo-se no top 30 até o momento do torneio, entraria como a exceção local.

É possível, no entanto, que alguma jogadora bem ranqueada nas duplas esteja presente já que a melhor brasileira do ranking é Luisa Stefani que está hoje na posição 35. Contudo, é também provável que Luisa melhore essa posição já que ela e sua dupla fixa, Timea Babos, são a 14a melhor dupla de 2025 do circuito feminino.

Assim, a estratégia da IMM com o Rio Open de pagar para trazer grandes nomes do top 20 não será uma opção. Uma possibilidade é investir em nomes interessantes que estão fora do top 30 como Naomi Osaka, Victoria Azarenka, Belinda Bencic, Maria Sakkari, Emma Raducanu, Marketa Vondrousova, entre outras.

Neste sábado (03/05), após vencer o Aberto de Madri, Aryna Sabalenka, tenista n. 1 do ranking, foi perguntada por um repórter brasileiro sobre a possibilidade de jogar o WTA 250 SP Open. Em sua resposta, destacou que as regras não permitem que jogadoras no topo do ranking joguem certos torneios.

Preços e compra de ingressos

Sobre os preços e dinâmica de compra de ingressos, a IMM não é conhecida por ter uma estratégia acessível e/ou adequada de venda. Todos os anos se acumulam reclamações e mais reclamações de torcedores que não conseguem adquirir ingressos para o Rio Open ainda que tentem. Os ingressos para o evento costumam se esgotar em poucas horas de venda, ainda que muitas sessões não fiquem cheias nos dias do evento (acredita-se que muitos ingressos “morrem” na mão de cambistas e que muitos são distribuídos para patrocinadores).

Os preços também não são lá muito acessíveis. No Rio Open 2025, os valores variavam de R$55 a R$830, porém os ingressos mais baratos acabam quase que instantaneamente. Por experiência própria, sei que o processo é realmente difícil (estive nas edições de 2024 e 2025) e os ingressos que consegui comprar sempre giraram em torno de R$350.

Os preços dos ingressos da BJK Cup foram mais acessíveis e mais fáceis de adquirir (comprei para os jogos de abril e novembro de 2024). A venda foi feita em lotes, o que ampliava as oportunidades de compra. É provável, acredito, que os preços do SP Open sejam mais acessíveis que os do Rio Open já que o período do evento também é mais complicado para o público de fora de São Paulo (no caso do Rio, muitas pessoas estão de férias no período ou na cidade para o Carnaval). E porque é o primeiro evento, então ainda é preciso construir o público.

De forma geral, as expectativas são muito boas para termos chaves competitivas ainda que sem grandes nomes do top 30. E que os preços e processo de compra sejam mais acessíveis que os do Rio Open. Vejamos!

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Autor: Ana Carolina Vimieiro

Professora da UFMG e coordenadora do Coletivo Marta (https://coletivomarta.org/). Jornalista, atleticana e "tenista" nas horas vagas.

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