Por Ingrid Mensil (@ingridmensil) e Francyelle Messias (@francyellemessias), estudantes de Jornalismo da UFMG
O time feminino do Cruzeiro conquistou um feito inédito em sua curta história ao chegar na final do Campeonato Brasileiro Feminino. A equipe com apenas seis anos de existência fez sua melhor campanha desde sua fundação, em 2019. Além de cumprir o principal objetivo do ano, a tão sonhada vaga na Copa Libertadores Feminina. Com participação em quatro competições na temporada, que ainda não chegou ao fim, as Cabulosas colocaram e marcaram o nome no cenário nacional.
O time feminino do Cruzeiro conquistou um feito inédito em sua curta história ao chegar na final do Campeonato Brasileiro Feminino da série A1. A equipe com apenas seis anos de existência fez sua melhor campanha desde sua fundação, em 2019. Além de cumprir o principal objetivo do ano, a tão sonhada vaga na Copa Libertadores Feminina. Com participação em quatro competições na temporada, que ainda não chegou ao fim, as Cabulosas colocaram e marcaram o nome no cenário nacional.
No fim de 2024, o Cruzeiro passou por uma reformulação profunda do seu elenco, com mais de 10 saídas, como de Rafa Andrade, Mari Pires e Carol Soares e a chegada de 13 reforços, com nomes como o da zagueira Isa Haas e da atacante Letícia Ferreira, atletas que hoje são pilares do time. Alguns nomes já conhecidos se mantiveram, um destaque é a renovação de Vanessinha, jogadora com mais jogos pela equipe no atual elenco. O técnico Jonas Urias manteve-se à frente do time, tendo renovado seu contrato em 2024. Na comissão técnica, a preparadora física Raissa Jacob, ex-Corinthians, chegou para substituir Ney Melo, vinda de um trabalho de sucesso de três anos na equipe paulista. Nos bastidores, 2025 é a primeira temporada completa de Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino do Cruzeiro, antes coordenadora da categoria.
A campanha histórica no Brasileirão começou em março, com a vitória por 4 a 3 sobre o Grêmio, pela 1ª rodada da fase inicial. O time seguiu com vitória na 2ª rodada, 2 a 1 sobre o Fluminense, seguido por um empate em 1 a 1 contra o São Paulo. O Cruzeiro, então, engatou uma sequência de vitórias, superando Juventude por 4 a 0, Internacional por 2 a 1, América-MG por 3 a 0, Red Bull Bragantino por 2 a 1, interrompida pelo empate em 1 a 1 contra o Flamengo na 8ª rodada. Na 9ª rodada, iniciou-se mais uma sequência de vitórias, com triunfos sobre Real Brasília por 3 a 0, Bahia por 1 a 0, Ferroviária por 3 a 1, Palmeiras 1 a 0, Instituto 3B por 5 a 1, interrompida, mais uma vez, por um empate na penúltima rodada, esse contra o Sport, também em 1 a 1. A única derrota da 1ª fase veio na última partida, o jogo contra o Corinthians terminou em 4 a 2 para a equipe rival.
As Cabulosas fizeram a melhor campanha da competição, terminando a 1ª fase com a 1ª colocação na tabela, com 11 vitórias, 3 empates e apenas uma derrota em 15 jogos, um aproveitamento de 80%, e o terceiro melhor ataque do campeonato. A equipe celeste quebrou uma hegemonia dos clubes de São Paulo, tornando-se o único time não-paulista a alcançar a liderança desde que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) adotou o modelo com tabela única, em 2019.
Já na 2ª fase, em partidas mata-mata, o 1º colocado geral Cruzeiro enfrentou o 8º colocado Red Bull Bragantino. O time celeste empatou a primeira partida, fora de casa, em 0 a 0 e se classificou vencendo o jogo no Independência por 2 a 0, com gols de Letícia Ferreira e Gisseli. Nas semifinais, as Cabulosas enfrentaram o Palmeiras em duas partidas eletrizantes. O Cruzeiro construiu o resultado durante o primeiro jogo, vencendo na Arena Barueri por 3 a 1, com gols de Letícia Ferreira, Vanessinha e Gaby Soares, no lado celeste, e de Andressinha para o time alviverde, levando a vantagem para o jogo em casa. A segunda partida da semifinal, porém, foi de derrota, com as Cabulosas sendo superadas por 2 a 1 pelo time paulista, com gols de Carla e Amanda Gutierres, para as palmeirenses, e Marília, para as cruzeirenses, levando a equipe para a final no saldo de gols.
O jogo de ida da final contra o Corinthians aconteceu no primeiro domingo (7) do mês de setembro no Independência, na capital mineira, e terminou em um empate com dois gols para cada lado. Gi Fernandes abriu o placar para o lado alvinegro e Marília deixou tudo igual, ainda no primeiro tempo. Na segunda parte da partida, Gabi Zanotti colocou o Corinthians à frente de novo, mas Isabela voltou a empatar o jogo, deixando a decisão para a Neo Química Arena.
Em mais uma partida muito disputada, as Brabas saíram vencedoras por 1 a 0, conquistando o heptacampeonato no jogo de volta da final no último domingo (14). O único gol da partida foi marcado aos 4 minutos do segundo tempo pela zagueira Thaís Ferreira. O resultado deu ao Cruzeiro o vice-campeonato do Brasileirão Feminino, a melhor campanha de um time de Minas Gerais na história da competição. Antes, a melhor marca de um time mineiro no torneio também havia sido alcançada pelo Cruzeiro, quando chegou às quartas de final em 2023 e 2024.

Outras competições
A temporada histórica do time celeste começou na Supercopa do Brasil, o primeiro título disputado no ano. O jogo contra o Bahia marcou, além do início da temporada, a estreia da nova camisa 1 do Cruzeiro que, pela primeira vez, foi apresentada em uma partida do futebol feminino. No campo, as Cabulosas demonstraram que viriam para uma temporada promissora no futebol feminino brasileiro.
Contra o Bahia, as mineiras ganharam de 1 a 0. Apesar do placar magro, o Cruzeiro foi dominante durante boa parte do jogo. Leticia Ferreira fez o gol da partida, concretizando a vitória das Cabulosas. Já na semifinal, contra o Corinthians, veio a derrota por 1 a 0. O time celeste teve uma jogadora a menos desde os 10 minutos do primeiro tempo. A goleira Camila Rodrigues foi expulsa, depois de um toque de mão fora da área. O Cruzeiro ainda resistiu por muito tempo, porém aos 37’ do segundo tempo, Vic Albuquerque fez o gol para as Brabas e selou a vitória corintiana.
Pela Copa do Brasil, depois de um sorteio para definir os confrontos para a terceira fase, as Cabulosas tiveram pela frente mais uma vez as Brabas. Os times se enfrentaram em jogo único no dia 6 de agosto, no estádio Castor Cifuentes, em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. E mais uma vez o Corinthians saiu vitorioso do confronto. Depois de um empate por 1 a 1, no tempo regulamentar, com gols marcados por Vic Albuquerque para as corintianas e por Isabela para as cruzeirenses, a partida seguiu para os pênaltis e o time alvinegro ganhou por 4 a 2.
Ainda em 2025, o Cruzeiro disputa o Campeonato Mineiro, que tem início marcado para o dia 20 de setembro.
O jogo das Cabulosas
Vários aspectos influenciam a temporada histórica das Cabulosas, tanto dentro das quatros linhas quanto fora delas. Uma delas, a evolução tática do time, é evidente, as mineiras jogam um futebol competente, equilibrado e muito sólido. De acordo com a comentarista da Samuca TV e colunista do Central da Toca, Rapha Oliveira, “foi um time que soube ser, em campo, sempre muito resiliente e que normalmente se defendeu muito bem. Mesmo quando criou poucas oportunidades, acabou conseguindo aproveitá-las, principalmente através da bola parada e de bola aérea, com ajuda das zagueiras na construção.” Para a comentarista, o ponto fora da curva dessa temporada é esse, mesmo oscilando em performance, a equipe cria o resultado.
O modelo com três zagueiras e três meio-campistas, duas alas mais livres e duas atacantes, conhecido como 3-5-2, foi o mais utilizado pelo técnico Jonas Urias durante o ano, caracterizando um time mais consistente defensivamente. Para Rapha Oliveira, outra característica importante das cruzeirenses em seu estilo de jogo é a pressão na saída de bola do adversário: “o time costuma se dar melhor quando sobe as suas linhas e faz essa marcação ajustada ainda no campo de defesa do oponente”. Em alguns momentos da temporada, ainda, a equipe explorou jogadas verticais, mas não foram lances vistos em todas as partidas.
As Cabulosas carregam um bom retrospecto na temporada, com números positivos. Além do alto aproveitamento na relação vitórias/derrotas, outro aspecto chama a atenção, a quantidade de gols que o time conseguiu marcar. Pelo Brasileirão, foram 43 gols marcados e 21 sofridos. De acordo com o SofaScore, aplicativo de acompanhamento de estatísticas e resultados esportivos, o Cruzeiro de Garotas possui uma taxa de conversão de gols de 16% no Campeonato Brasileiro Feminino. Para Sofia Cunha, jornalista e repórter setorista do Cruzeiro no portal de esportes No Ataque, vinculado ao jornal Estado de Minas, “o Cruzeiro é um time letal, pela taxa de conversão de gols e a quantidade de gols marcados, também dá para definir que é um time que cria muitas opções. Eu acredito que o Cruzeiro, quando joga com times que estão na mesma prateleira ou abaixo, é um time muito perigoso ofensivamente, não à toa marcou gol em 95% dos jogos”.
Sofia ainda realçou outras valências do time mineiro observadas durante o Brasileiro, “o que me chama muito a atenção no Cruzeiro é o poder de reação, o time já começou perdendo algumas vezes, buscou o empate e até virada”. A setorista cita o primeiro jogo do Cruzeiro no Brasileiro, quando começou perdendo para o Grêmio, consegue uma virada e ganha a partida por 4 a 3. Ela ainda completa: “poucas vezes o time se abala quando sofre um gol e também tem uma estabilidade psicológica que chama a atenção. Eu destaco o comportamento na ida da final do Brasileiro: o Cruzeiro tomou o gol, mas permaneceu.”
Sofia Cunha também citou que, na visão dela, apesar dos bons pontos do time, ainda falta um pouco de criatividade no meio campo. Além disso, a repórter acredita que há uma pequena oscilação na questão emocional, mesmo com a estabilidade psicológica sendo também destacada, e recorda o jogo de volta da semifinal contra as Palestrinas: “Teve um baque, o Cruzeiro sentiu muito o primeiro gol do Palmeiras e demorou para reagir. Não sei se foi por causa do contexto de estar jogando com casa cheia, mas depois que encontrou um gol voltou para o caminho. Porém não acho que seja um aspecto que está resolvido e pronto. Se fosse, o Cruzeiro na final do Brasileiro agora contra o Corinthians não teria sofrido tanta pressão”. Ela completa que ainda falta uma “casca” para os jogos decisivos, que as jogadoras precisam ainda se acostumar a jogar essas partidas, detalhe esse que foi apontado inclusive pelo técnico Jonas Urias e pela diretora de futebol Bárbara Fonseca durante a coletiva de imprensa após a final.
O sucesso da temporada
Para a pesquisadora do esporte, Rafaela Souza, o sucesso da temporada do Cruzeiro passa pelas mãos de pessoas que bancaram e acreditaram na modalidade, como a ex-diretora Kin Saito e a atual gestora do time Bárbara Fonseca, e deve-se sempre lembrar do protagonismo das mulheres nessa gestão. Segundo ela, “essa campanha já é histórica e mostra que quanto mais se investe na modalidade, quanto mais se pensa com carinho, traz pessoas competentes para cargos importantes, o resultado vem naturalmente.”
A torcida cruzeirense não poderia ficar de fora da retrospectiva da temporada, sendo ela também uma das protagonistas. Torcedoras e torcedores que tinham costume de ir para o estádio, que estavam frequentando o ambiente pela primeira vez, que acompanhavam o time feminino há muito tempo ou estavam vendo a primeira partida se uniram para abraçar as Cabulosas e quebraram recordes de público. A pesquisadora também destacou o impacto e a influência da torcida “o apoio da torcida, que é uma das coisas mais importantes no futebol de mulheres. Ver o que a torcida do Cruzeiro está fazendo, jogando junto, abraçando o time, já é um título.”

E 2026?
A temporada ainda não chegou ao fim, com mais uma competição a ser disputada pelo Cruzeiro de Garotas, mas as projeções para a próxima já começam a ser feiras. Após a oportunidade de disputar a final de um título nacional, as expectativas são de crescimento para 2026. No próximo ano, as Cabulosas têm presença garantida nas três principais competições do calendário do futebol feminino, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro, além do torneio continental Copa Libertadores. A próxima temporada marcará a primeira vez que o time mineiro disputará o principal torneio de futebol feminino da América, vaga que foi conquistada graças à temporada histórica.
Para a colunista Rapha Oliveira, os resultados positivos dão tranquilidade à diretora de futebol Bárbara Fonseca e ao técnico Jonas Urias trabalharem na montagem do elenco e justificaram gastos para seguir com um time competitivo e forte para as competições que serão disputadas em 2026.
Expediente
Redação: Ingrid Mensil e Francyelle Messias
Apuração: Ingrid Mensil e Francyelle Messias
Edição: André Quintão
Coordenação: Ana Carolina Vimieiro