Do futebol amador ao campeonato brasileiro: Vanessinha, uma das cabulosas mais antigas do Cruzeiro

Conheça a trajetória de Vanessa Lorrany, a talentosa atacante de 28 anos que defende o manto azul desde quando o Cruzeiro jogava no futebol amador, em 2019

Por Júlia Neres e Mariana Braz, estudantes de Publicidade e Propaganda da UFMG

Em uma entrevista para o GE, Vanessinha abriu seu coração e contou mais sobre suas raízes, sua família, além de contar como surgiu o interesse pelo esporte. Em Vianópolis, interior de Goiás, a atleta contou que seguia o irmão Hélios pelas ruas, mas ele não gostava que jogasse futebol por não ter meninas na cidade. Vanessinha, como muitas outras jogadoras da modalidade, não se importava e jogava com os meninos. Apesar da repreensão por parte do irmão, os pais, Maria Helena e José Luiz, não se incomodavam. E assim se deu o início da carreira de uma das cabulosas mais antigas, seguindo seu irmão pelas ruas da cidade.

Vanessinha e sua família. Foto: arquivo pessoal. Reprodução: GE

Ainda em Goiás, a atleta não possuía condições de se manter na capital, mas começou a jogar no Aliança, time feminino de Goiânia. Apesar dos recursos limitados, Vanessinha contou com o apoio dos pais nacarreira como jogadora, até que, em 2017, ela se mudou para Belo Horizonte.

Vanessa disse começar entre os 18 e 19 anos, que, aliás, não tinha base. A base do futebol feminino, na verdade, era junto dos meninos. No primeiro jogo da Copa do Brasil, contou que não possuía qualquer tipo de treinamento, mas que ainda assim,, conseguiu deixar duas meninas para trás, e foi assim que Bárbara entrou em contato com a jogadora, e a contratou:

“Eu falei que queria, mas na semana mesmo, eu não queria mais, mas a Bárbara disse: vai vir sim, senão, vou aí te buscar. Menina da roça, nunca tinha ficado longe dos pais” – brincou.

O caminho até a equipe celeste

Vanessinha se mudou em 2017 para BH, inicialmente para atuar no América-MG, mas com uma reviravolta, surgiu uma oportunidade de estrelar em outro time mineiro, o Cruzeiro:

“No começo, eu jogava para o América. Em 2018, eles falaram que não dariam mais alojamento para as meninas que moravam fora, e não tinha como eu ficar porque não recebia o suficiente para pagar um aluguel, então ela dispensou as meninas que eles ajudavam. Eu fui para Rio Preto, fiquei uma semana, ia assinar o contrato. Mas a Bárbara me ligou e falou que iria para um clube grande e que queria me trazer de volta.”

O projeto feminino só foi possível graças à uma adequação ao estatuto da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e a uma norma da Confederação Brasileira de Futebol (Conmebol), implementada em 2019, que passou a exigir que os times masculinos tivessem uma equipe feminina profissional. Foi nesse início que o time feminino começou a treinar no campus da PUC Minas.

Há seis anos, então, Vanessinha integra o elenco feminino do Cruzeiro, desde a atuação do time na categoria amadora em 2019.

O ínicio do clube 

Vanessa foi apresentada juntamente com as demais atletas que fariam parte do time, em fevereiro de 2019, em um evento que aconteceu no Complexo Esportivo da PUC Minas, no campus Coração Eucarístico em BH.

Elenco do time de futebol feminino na sua apresentação. Créditos: Igor Sales/Cruzeiro

Neste mesmo ano, o time jogou sua primeira temporada como um clube profissional. O primeiro campeonato disputado pelas Cabulosas foi o Campeonato Brasileiro Feminino Série A2 2019, do qual saíram como vice-campeãs.

Primeiro gol na formação recente do Cruzeiro

Além de ser uma das pioneiras no time, Vanessinha fez o primeiro gol da formação recente do time – o Cruzeiro teve uma equipe feminina nos anos 1980. A jogadora entrou para a história logo em sua primeira partida pela equipe, contra o Taubaté pelo Campeonato Brasileiro Feminino A2 (segunda divisão) de 2019, que aconteceu em março do mesmo ano em São Paulo.

Desde então, o time das Cabulosas garantiu acesso à elite do futebol feminino nacional, jogando a Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino. Vanessa segue fazendo história no clube e inspirando diversas jogadoras durante sua trajetória, que não para por aí.

Convocação para a Seleção Brasileira

No ano seguinte à sua estreia no clube, em 2020, a jogadora foi convocada pela primeira vez para jogar representando a Seleção Brasileira Feminina. Além da atacante, a meia Maria Eduarda (Duda), também do Cruzeiro, foi convocada no mesmo ano. 

Em 2021, Vanessinha foi novamente convocada pela Seleção. Embora tenha sido convocada em dois anos consecutivos e possua um ótimo desempenho em seus jogos pelo Cruzeiro, na Seleção a atleta passou por períodos de observação e preparação, onde a comissão técnica buscava ampliar o leque de opções no ataque.

Resiliência para além do campo

Além de todo o reconhecimento que Vanessinha possui pela torcida e suas colegas de equipe, a jogadora vem cada vez mais conquistando destaque na mídia por seus marcos históricos realizados com a camisa da Raposa. 

Vanessinha. Reprodução: Cruzeiro via Instagram.

No ano de 2023, a jogadora conquistou o marco de maior goleadora de todos os tempos do time, com 32 gols marcados até a data. Além disso, a atacante ganhou no mesmo ano o Prêmio ESPN Bola de Prata, sendo reconhecida na premiação feminina com o “gol mais bonito” em uma partida contra o São Paulo no Campeonato Brasileiro de 2023.

Em seguida, em 2024, a camisa 7 conquistou a marca histórica de 100 jogos com a camisa do clube. Ela foi a primeira jogadora a conquistar essa marca. Ainda no mesmo ano, o time chegou pela primeira vez em uma final de um campeonato nacional. 

No final de 2024, em setembro, Vanessa Lorrany passou por uma lesão complicada, a atleta quebrou o tornozelo em uma partida do Campeonato Mineiro. Ela passou por uma cirurgia e iniciou sua recuperação, voltando à preparação física em fevereiro de 2025.

Apesar de ter ficado cinco meses fora, a jogadora voltou com tudo e ao fazer o gol da viradacontra o Palmeiras, em jogo válido pelas semifinais do Brasileirão, fez questão de agradecer a equipe médica em seu primeiro gol após a recuperação: 

“Para quem não sabe, passei por um momento difícil. Tive outra lesão na minha perna e fiquei cinco meses fora. Foi muito complicado, passam várias coisas na cabeça, a gente não sabe se vai conseguir voltar a jogar, se vai poder ajudar as companheiras. Graças a Deus estou aqui. Só tenho que agradecer ao Felipe, à Carol e à Bia, que são meus fisioterapeutas, e ao médico do clube”

Ao retornar esse ano, Vanessinha segue conquistando marcos com a camisa 7 das Cabulosas e segue com o trabalho em equipe, alcançando cada vez mais o amor da torcida e a confiança de suas colegas de time.

Expediente
Redação: Júlia Neres e Mariana Braz
Apuração: Júlia Neres e Mariana Braz
Edição: André Quintão
Coordenação: Ana Carolina Vimieiro

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Autor: Laboratório de Comunicação e Esporte

O Laboratório de Comunicação e Esporte é uma disciplina de graduação ofertada anualmente no Departamento de Comunicação Social (DCS) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pela professora Ana Carolina Vimieiro.

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