por Soraia Carvalho, estudante de Jornalismo da UFMG
Começar a acompanhar um esporte novo não é uma tarefa fácil! São siglas diferentes, regras complicadas e, quando se trata de carros, diversas estratégias que só fazem sentido depois de algumas corridas acompanhadas. Se você caiu de paraquedas na Fórmula 1 Academy, a ideia desse texto é simples: explicar o essencial para que você consiga assistir a um fim de semana da categoria sem se perder na enxurrada de informações.

Comecei a acompanhar a modalidade em 2024, quando a descobri através das transmissões da Fórmula 1. E, mesmo já habituada aos termos que são usados, fiquei confusa (bem confusa) no primeiro gp que assisti, e é por isso que acho importante estrear esta coluna com um guia completo.
É bem prazeroso ver mulheres, que historicamente não tiveram espaço no esporte que eu amo, buscando conquistar seu lugar e protagonizando disputas intensas na pista. No fim, não é só sobre corrida, é também sobre abrir caminho e mostrar que elas pertencem ali. Se você apoia esportes femininos, por que não dar uma chance ao automobilismo?
O surgimento da categoria

Criada em 2023, a F1 Academy nasceu como um projeto da própria Fórmula 1 para dar mais oportunidades às mulheres no automobilismo. A proposta é oferecer mais tempo de pista junto com treinamento físico, mental e suporte técnico. A ideia é ser uma “porta de entrada” para os monopostos, um degrau entre o kart e as categorias de base do automobilismo internacional, em outras palavras: um trampolim até a F3, F2 e, quem sabe, o sonho da F1. Mas há um limite de idade: é preciso ter entre 16 e 25 anos na estreia, e cada pilota só pode disputar duas temporadas.
A partir da temporada de 2024, a campeã da F1 Academy passou a ter como principal prêmio um assento garantido na GB3 (antiga Fórmula 3 inglesa) do ano seguinte. Além disso, as cinco primeiras colocadas no campeonato de pilotas também conquistam pontos válidos para a Super Licença da Federação Internacional de Automobilismo (FIA): são 10 pontos para a campeã, 7 para a vice, 5 para a terceira colocada, 3 para a quarta e 1 para a quinta posição.
Mas agora você pode estar se perguntando: e como são os carros dessa categoria? Vem que eu te explico!
O carro
O formato da categoria segue a lógica de campeonatos de base, com carros menores e menos potentes em relação à Fórmula 1, nesta categoria os carros possuem especificações próximas aos da Fórmula 4. O chassi é produzido pela Tatuus Automobili, em fibra de carbono, seguindo os padrões de segurança da FIA, o motor é fornecido pela Autotecnica e entrega até 174 cavalos de potência, já os pneus são da Pirelli, os mesmos fornecedores da Fórmula 1.
Em termos bem mais simples porque estou aqui para facilitar o processo: o carro vai de 0 a 100 km/h em 3,6 segundos e pode chegar a 240 km/h, com força lateral de até 2G em curvas. Ou seja, as pilotas podem enfrentar até duas vezes a força da gravidade quando estão fazendo curvas.

Apesar de ser um carro altamente tecnológico, na F1 Academy não há telemetria em tempo real. Isso significa que a equipe só consegue acessar todas as informações do carro durante uma volta/corrida, quando este retorna para o box.
Equipes
Em 2025, a categoria conta com seis equipes, cada uma com três carros. Desde o ano passado, as dez equipes da Fórmula 1 passaram a ter participação direta: cada uma apadrinha uma pilota, que corre sob suas cores. As demais também contam com apoio de grandes marcas.
Segue uma lista das equipes atuais. Fiquem de olho nas pilotas Doriane Pin e Maya Weug, que estão protagonizando uma ótima disputa pelo título. As brasileiras Rafaela Ferreira e Aurélia Nobels também merecem nossa atenção. Eu, como fã, tenho algumas favoritas, mas deixo o caminho livre para que você escolha as suas!
PREMA Racing
Nina Gademan (Alpine)
Doriane Pin (Mercedes)
Tina Hausmann (Aston Martin)
Rodin Motorsport
Emma Felbermayr (Kick Sauber)
Ella Lloyd (McLaren)
Chloe Chong (Charlotte Tilbury)
Campos Racing
Chloe Chambers (Red Bull Ford)
Rafaela Ferreira (Racing Bulls)
Alisha Palmowski (Red Bull Racing)
MP Motorsport
Alba Larsen (Tommy Hilfiger)
Joanne Ciconte (Wella)
Maya Weug (Ferrari)
ART Grand Prix
Courtney Crone (Haas)
Aurelia Nobels (Puma)
Lia Block (Williams)
Hitech TGR
Nicole Havrda (American Express)
Aiva Anagnostiadis (TAG Heuer)
Wild Card
A vaga coringa
A Wild Card (vaga coringa) é uma porta de entrada para jovens pilotas locais. Em cada etapa, uma competidora da região em que está acontecendo o grande prêmio recebe um carro e tem a chance de mostrar serviço.
Neste ano de 2025, a equipe responsável por oferecer, além do carro, suporte e treinamento, para estas pilotas é a Hitech TGR.
Esse é um movimento muito interessante da competição, uma vez que ajuda a promover mulheres no automobilismo em diferentes locais do globo. Sabemos que se destacar no cenário internacional do automobilismo não é simples, mas a tarefa se torna ainda mais complicada quando se é uma mulher asiática ou do Oriente Médio. A visibilidade que um fim de semana de F1 Academy proporciona para essas jovens pode ser decisiva para atrair patrocínios e fãs. Para as equipes, é uma ótima oportunidade de observar de perto nomes que dificilmente teriam essa vitrine e para os fãs locais, significa torcer por alguém “da casa”.
Dinâmica do fim de semana
Esse é, talvez, o momento chave desse texto: como funciona a competição na prática! Não é um bicho de sete cabeças, mas pode parecer complexo se você nunca acompanhou o automobilismo.
A dinâmica da F1 Academy foi ajustada ao longo das temporadas. Hoje, o formato é esse, e acontece em um fim de semana (sexta, sábado e domingo):
Treinos livres: até duas sessões de 40 minutos.
Classificação: 30 minutos.
Corridas: duas provas, cada uma com no máximo 30 minutos.
É na classificação (ou qualy) em que a ordem de largada de cada carro é decidida. Durante 30 minutos, as pilotas têm a chance de completar o maior número possível de voltas em busca do melhor tempo. Aquela que consegue completar o circuito no menor tempo possível conquista a pole position (primeira posição), enquanto as demais se organizam de acordo com seus tempos, quanto menor o tempo do percurso, mais à frente na largada ela fica. Essa, sem dúvidas, é a minha parte favorita do fim de semana, seja na Fórmula 1 ou na F1 Academy.
Como eu disse antes, durante o final de semana ocorrem duas corridas, e é por isso que, se você pesquisar quem ganhou o Grande Prêmio de determinado lugar, corre um grande risco de encontrar duas pessoas diferentes. Você agora pode estar se perguntando: são as mesmas pilotas que correm nas duas provas? E eu te respondo que sim. Mas então surge outra questão: qual é a diferença entre elas? E a resposta está na ordem de largada. No sábado, durante a primeira prova, ocorre a chamada inversão do grid: as oito pilotas mais rápidas da classificação largam em ordem invertida, a pole position começa do oitavo lugar, a segunda em sétimo, e assim por diante. Da nona colocada em diante, mantém-se a ordem original do qualy. Já no domingo, acontece a corrida 2, também chamada de corrida principal, em que a largada segue exatamente o resultado definido na classificação.
Acho complicado? Vou tentar explicar melhor:
Pontuação e campeonatos
Na F1 Academy, a distribuição de pontos segue a seguinte lógica: a pilota que conquista a pole position para a Corrida 2 recebe dois pontos extras. Na Corrida 1, apenas as oito primeiras colocadas pontuam: a vencedora leva 10 pontos, seguida por 8, 6, 5, 4, 3, 2 e, finalmente, 1 ponto para a oitava colocada. Já na Corrida 2, a escala é maior e premia as dez primeiras: 25 pontos para a vitória, depois 18, 15, 12, 10, 8, 6, 4, 2 e 1. Além disso, em cada prova há um ponto extra para a pilota que fizer a volta mais rápida, mas desde que termine entre as oito primeiras da Corrida 1 ou entre as dez primeiras da Corrida 2. Caso contrário, esse bônus não é válido.
Assim como na Fórmula 1, há dois campeonatos acontecendo ao mesmo tempo: o de pilotas e o de construtores. No caso das equipes, a pontuação de cada GP (Grande Prêmio) é a soma dos três carros inscritos, incluindo a Wild Card.
Ainda não está convencida de que acompanhar a F1 Academy é simples? Então eu indico também a assistir a Docuséries F1: The Academy. Eu fiz até um texto sobre ela no nosso Observatório Marta! Vale a pena saber um pouco mais sobre as pilotas e a estrutura da competição.
Expediente
Redação: Soraia Carvalho
Edição: Olívia Pilar
Coordenação: Ana Carolina Vimieiro