Protesto marca clássico entre Cruzeiro e Atlético pelo Mineiro Feminino

Foto: Rafaela Souza

Por Soraia Carvalho, estudante de Jornalismo da UFMG, e Rafaela Souza, jornalista e Mestra em Comunicação

Torcida Celeste cobra mais investimentos e teme retrocesso no projeto das Cabulosas

O clássico entre Cruzeiro e Atlético, disputado no último sábado (4) na Arena Gregorão, em Contagem, pela terceira rodada do Campeonato Mineiro Feminino, foi marcado não apenas pelo futebol em campo, com a vitória das Cabulosas por 4 a 3, mas também por protestos nas arquibancadas. Torcedoras do Cruzeiro levaram cartazes e entoaram cânticos de cobrança para a diretoria, pedindo mais respeito e investimentos no futebol feminino do clube.

A manifestação ocorre em meio à insatisfação com a posição da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Cruzeiro, que pretende manter o orçamento da próxima temporada em aproximadamente 15 milhões de reais, o mesmo valor de 2025. O departamento de futebol feminino, no entanto, sinaliza a necessidade de ampliar os recursos para garantir um elenco competitivo e em condições de brigar por títulos nacionais e internacionais, visto que a Raposa conquistou uma vaga inédita para a Libertadores de 2026. 

Para as torcedoras, a decisão da diretoria vai na contramão do discurso do dono da SAF, Pedro Lourenço, após a histórica participação das Cabulosas na final do Brasileirão deste ano. Na ocasião, Pedrinho, como é conhecido, havia prometido reforçar o projeto:

“Nós vamos ter uma reunião com nossa direção e o que tiver de ser feito nós vamos fazer. O importante é que o Cruzeiro siga crescendo e se consolidando também no feminino”, disse o empresário.

Sem o aumento do orçamento, a permanência de peças-chave do elenco fica em risco. Dezesseis atletas, entre elas titulares como Marília, Paloma Maciel e Gaby Soares, têm contrato válido apenas até o fim de 2025 e já podem negociar com outros clubes. A própria comissão técnica pode ser impactada: o treinador Jonas Urias tem cláusula de valorização salarial em seu contrato, algo que também dependerá da capacidade de investimento da SAF.

Torcida protesta nas arquibancadas e nas redes sociais

Os protestos desse sábado foram organizados pela torcida Desorganizada Cabulosa, que vem acompanhando de perto as movimentações internas do Cruzeiro para a temporada de 2026. Além dos cartazes e cânticos, a torcida também tem feito postagens nas redes sociais, cobrando um posicionamento do clube:

Foto: Reprodução/Instagram

Essa cobrança reflete um medo compartilhado por quem acompanha de perto o time feminino. Para Ana Paula Cerqueira, vice-presidenta da torcida Desorganizada Cabulosa, o Cruzeiro não pode estacionar após a temporada histórica de 2025:

“O Cruzeiro é um time muito grande pra manter o orçamento de um ano pro outro […] O mínimo que se deve fazer é corrigir pela inflação. As jogadoras têm direito de receber de acordo com o que está no contrato delas e tem que contratar jogadoras de mesmo nível ou acima para jogar uma Libertadores. E se a gente quer fazer receita é desse jeito: é contratando time, montando elenco. Não dá pra parar o carro agora, tem que continuar indo pra frente.”

Na mesma linha, Natália Simões, presidenta da Desorganizada, destacou que o cenário do futebol feminino exige atualização dos investimentos:

“Não se faz futebol de uma temporada pra outra com os valores do ano anterior. A gente vê agora a venda da Gutierrez triplicou o valor da nossa maior venda na história do futebol feminino do país. Então, a gente entende que não tem outro jeito, que são necessárias melhorias no orçamento, mas sem dar um passo maior do que as próprias pernas, isso é óbvio, é evidente. A gente quer um crescimento sustentável, mas a gente quer um Cruzeiro que caminhe para melhorias e não para retrocesso.”

Natalia se refere a venda de Amanda Gutierrez, ex-jogadora do Palmeiras que agora vestirá as cores do Boston Legacy dos Estados Unidos. A venda da atleta fez o time alviverde embolsar cerca de R$ 5,88 milhões, tomando para si o recorde de maior venda, que antes era de Priscila, do Internacional, vendida ao América-MEX por R$ 2,8 milhões em 2024.

Foto: Rafaela Souza

Os cânticos e cartazes explicitaram o temor que a manutenção do orçamento atual pode significar ao time das Cabulosas: perder a competitividade conquistada durante a temporada, que fez com que a equipe alcançasse feitos históricos, como o recorde de público no Brasileirão dentro do estado. Para dar continuidade ao sucesso de 2025, a torcida do Cruzeiro exige da diretoria uma postura condizente com as ambições do elenco.

Karina Barbosa, secretária da Desorganizada, cobra a promessa da diretoria que, após o vice-campeonato contra o Corinthians no Campeonato Brasileiro, já tinha sinalizado que continuaria investindo nas Cabulosas.

“Eu acho que não tem como cobrar um retorno sem investimento. E essa comparação de tipo ‘ah, já tá dando o suficiente, já está reclamando de barriga cheia’ é porque eles não sabem o que está acontecendo. A pessoa não tem noção nenhuma. E eu acho que sim, ele (Pedrinho) tem que investir, já que ele prometeu. A gente não está pedindo nada além do que ele disse, do que a palavra que ele deu”, destaca.

Antes dos protestos no jogo, a torcida recepcionou normalmente o ônibus das jogadoras celestes, com aplausos e apoio, sem críticas. A movimentação deixa claro que o alvo não são as atletas, mas a diretoria. E, segundo o apurado pela Revista Marta, a ideia é manter a pressão nos próximos jogos, sempre direcionada à cúpula da SAF. 

Expediente

Redação: Soraia Carvalho e Rafaela Souza

Edição: Olívia Pilar

Coordenação: Ana Carolina Vimieiro

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