
Por Soraia Carvalho, estudante de Jornalismo da UFMG
No último dia 10, a revista estadunidense Wired publicou uma reportagem expondo que o crescimento da popularidade da WNBA nesta temporada, que conta com recordes de audiência, maior presença de público e o destaque de estrelas como Angel Reese e Caitlin Clark, veio acompanhado também de uma tendência preocupante: estão se espalhando as apostas esportivas baseadas no ciclo menstrual das jogadoras.
Nas redes sociais, um apostador conhecido como FadeMeBets tem ganhado notoriedade por criar previsões sobre o desempenho das atletas a partir de suposições sobre seus ciclos menstruais. Ele afirma ter acertado 11 de 16 previsões, com cerca de 68% de acerto, e chama sua prática de “blood money” que, em tradução livre, pode ser dinheiro de sangue ou dinheiro sujo. Em seus vídeos, ele costuma usar expressões como “temos uma vítima”, referindo-se à linha de aposta antes de afirmar, por exemplo, que determinada jogadora estaria na “fase lútea tardia”, o que, segundo ele, justificaria uma queda de rendimento.
Em entrevista à revista Wired, ele explicou que a sua metodologia é baseada em análises de estatísticas de desempenho das atletas desde os jogos universitários e, buscando um padrão, tenta presumir associando a ciclos de 24 a 38 dias, em que fases do mês elas jogam melhor ou pior. Contudo, é válido lembrar que nenhuma das jogadoras do campeonato é consultada na reportagem.
O método se espalhou pelas redes sociais como Twitter (X) e Reddit, e vem sendo criticado por especialistas por ser pseudocientífico e sexista.
“Nem todas as mulheres são iguais. Sim, existe o ciclo tradicional de 28 dias, mas o de cada uma é diferente e varia de pessoa para pessoa, mês a mês. Alguém ser capaz de prever isso? Alguém que não é muito próximo da pessoa que está menstruando? Na verdade, é meio bobo (tradução livre)”, afirmou Amy West, médica especializada em medicina esportiva, em entrevista para Wired.
Além da falta de base científica, o fenômeno reforça estereótipos de gênero e o estigma sobre a menstruação, alerta Nadya Okamoto, dona da marca de produtos menstruais August: “Um dos grandes problemas no esporte feminino é a equidade salarial, certo? Se existe essa narrativa de que 25% do mês as mulheres não vão competir no mesmo nível, esse estigma negativo tem repercussões muito perigosas (tradução livre)”.
Jogadoras da WNBA recebem até 200 vezes menos que jogadores da NBA, uma disparidade que, segundo Okamoto, pode ser agravada por discursos que questionam a constância do desempenho feminino.
Apesar das críticas, apostas desse tipo continuam circulando, revelando como a crescente visibilidade do esporte feminino ainda convive com práticas que desumanizam e exploram o corpo das atletas.
Expediente
Redação: Soraia Carvalho
Edição: Olívia Pilar
Coordenação: Ana Carolina Vimieiro