Força, luta e poder feminino: a história de uma década da Medusa

Fundada em 2015, a Associação Atlética de Farmácia e Biomedicina engloba mais de 100 atletas e 40 pessoas na gestão; medalhas já são rotina

Por Enzo Beber (@enzobeber) e Maria Polito (@maria_polito_)

A universidade, para muitos, evoca um cenário de estudos ou de festas, duas facetas distintas que não são equivocadas, apenas incompletas. O esporte universitário carrega um peso de muita importância na vida de inúmeros estudantes, que, na rotina corrida da busca por um diploma, recorrem à integração como forma de lazer. Para os alunos dos cursos de Farmácia e de Biomedicina, a Medusa é a incorporação desse sentimento de pertencimento.

O ano de 2025 marca uma década de existência da Associação Atlética de Farmácia e Biomedicina da UFMG (AAFAB), mais popularmente conhecida como Medusa. Criada em 23 de junho de 2015 com o nome de Associação Atlética de Farmácia da UFMG, a Medusa surge para representar o curso homônimo no mundo esportivo de Belo Horizonte.

A atlética foi criada a partir da vontade do então estudante e representante do diretório acadêmico, Matheus Aires, de criar uma equipe específica para o curso de farmácia. A atlética foi originada pela necessidade da existência de espaços de integração, recreação e de manutenção da saúde mental dos estudantes. O projeto inicial não contava com verba própria, mas sim dinheiro que saía do bolso do Matheus, responsável também pela criação do primeiro estatuto da associação. 

Ainda que tenha passado por mudanças visuais algumas vezes na última década, a logo da atlética, uma versão estilizada em verde e roxo da Medusa, das histórias gregas, é bastante icônica e reconhecível. As mudanças são um reflexo da evolução e do crescimento da organização com o passar dos anos. Atualmente, as redes sociais da atlética estão estilizadas em comemoração aos 10 anos da associação, com posts especiais de linha do tempo, relatos de ex-atletas e memorial de fotos de corpos diretivos anteriores.

Logos da Medusa ao longo  dos anos. A imagem à direita é a atual. Créditos: Medusa.

A imagem da Medusa nasceu a partir do cenário das atléticas da UFMG que, na época, era marcado por nomes e mascotes que remetiam a mitos gregos. Com essa linha específica em mente, Matheus, primeiro presidente da AAFAB, estudou, em conjunto com a então gestão, algumas entidades gregas, mas a figura da Medusa se destacou e foi selecionada para representar a atlética. A escolha veio como oposição às outras associações, que eram, em sua maioria, formadas por homens e simbolizadas por figuras masculinas, enquanto a AAFAB contava com uma gestão majoritariamente feminina. 

A Medusa, nas histórias clássicas, era retratada vezes como monstro, vezes como mulher injustiçada e símbolo de resistência feminina, a última sendo a inspiração para a atlética. A Medusa representa a força, a luta e o poder feminista contra o patriarcado, especialmente ao se considerar o público em grande parte feminino do curso de farmácia, como explica Matheus. 

Em 2017, a entidade foi registrada oficialmente como associação atlética da Universidade Federal de Minas Gerais. Em 2017 e 2018, respectivamente, foram criados a bateria Curtisona e o time de cheerleader Vipers, que até hoje são considerados parte essencial da Medusa como times de integração. Com a inserção da Biomedicina à associação, em 2019, a Medusa passou a chamar-se Associação Atlética de Farmácia e Biomedicina da UFMG (AAFAB), nome que carrega até os dias atuais.

Modalidades e competições

Atualmente, a atlética conta com 11 diferentes modalidades. Com algumas ainda em construção, hoje a Medusa tem equipes de futsal masculino e feminino, vôlei feminino e masculino, handebol feminino, basquete feminino e masculino, muay thai, jiu-jitsu, natação, atletismo, vôlei de areia, futevôlei e e-sports.

A atlética marca presença certeira em três competições internas, o tradicional Inter UFMG, a Copa União e a LIA (Liga Inter Atléticas de Vôlei). Em 2024, o time feminino de vôlei ganhou medalha de bronze na série ouro do Inter UFMG e o handebol feminino ficou em segundo lugar na série prata. Já na Copa União, a Medusa alcançou o terceiro lugar geral da competição. O time de vôlei masculino é responsável também pela vitória na LIA, competição específica da modalidade masculina. 

Partida de Handebol entre Medusa e Face Foto: @viglionifotografia

O foco atual da gestão da atlética, formada predominantemente por atletas, é a expansão da participação das equipes em outras competições. Em novembro deste ano, a Medusa competirá pela primeira vez nos Jogos Universitários do Vale do Aço (JUV), que contam com mais de 50 atléticas e 14 modalidades disputadas. Além disso, a atlética realiza campeonatos internos e participa de amistosos, visando à ampliação do envolvimento esportivo. O intuito vigente é levar a Medusa para fora dos muros da UFMG por meio do esporte, almejando o contato e a aproximação com outras atléticas e times.

Com times femininos e masculinos já consolidados no vôlei e no futsal, os outros esportes ainda são um trabalho em andamento. O time de handebol feminino é formado por atletas bastante engajadas, enquanto a modalidade masculina passa por um processo de reconstrução, treinando em colaboração com a atlética da Saúde. Os times de basquete ainda estão em processo inicial, mas dispõem de atletas que integram o time oficial da UFMG. 

De modo pioneiro, a Medusa investe em esportes ainda em crescimento no meio universitário. Os treinos de luta (muay-thai e jiu-jitsu), natação, atletismo, vôlei de areia e futevôlei são alguns dos investimentos atuais da atlética, que vê bastante empolgação e receptividade do público com as modalidades. Ainda que ainda não sejam presença ativa nas competições, o que é um objetivo futuro, as categorias contam com treinos recorrentes, que contribuem para o crescimento da AAFAB.

Além das modalidades esportivas, a Medusa possui também duas equipes de integração, a Curtisona e a Vipers, a bateria e o time de cheerleader. As equipes contribuem ativamente para a atlética em campeonatos com desempenhos importantes para o reconhecimento e crescimento da atlética.

Equipe Vipers durante apresentação no BOP GAMES, do qual saíram com a medalha de prata Foto: Divulgação | Instagram @vipersufmg

A Vipers, em setembro de 2025, participou do BOP Games, festival multiesportivo, conquistando o segundo lugar do Campeonato Mineiro de Cheers. E, como meta futura, a Bateria Curtisona tem planos de participar da Copa Inter Atléticas de 2026, a CIA, um dos maiores eventos universitários do Brasil.

Além do diploma

Para Flávia Luz, ou apenas Flavinha, presidente da Associação Atlética de Farmácia e Biomedicina da UFMG, a Medusa é parte integral da sua experiência universitária desde o primeiro período de curso. Inicialmente, entrou como atleta no time de vôlei feminino e, gradualmente, foi introduzida ao corpo diretivo da atlética. Após períodos como assessora da diretoria de eventos e tesoureira, foi eleita presidente da associação.

Flávia Luz. Foto: João Paulo | Olhar.

A quadra de vôlei foi o ambiente responsável pela conexão de Flavinha e muitas amigas, que lhe foram introduzidas graças à atlética. Para a presidente, a participação e a presença no esporte universitário, faça chuva ou faça sol, trazem o sentimento de viver, de fato, a faculdade. O ambiente, teoricamente de rivalidade, das competições, é propício para a criação de vínculos com pessoas da própria Medusa e também de outras associações. 

Para a presidente, a atlética torna-se uma válvula de escape da exaustão, da rotina e da monotonia que a faculdade pode se tornar. A Medusa traz o sentimento de fazer parte e de não presenciar a universidade apenas dentro da sala de aula, mas como algo além do diploma de graduação, que pode originar histórias e amigos para a vida toda.

Fuga da rotina

O esporte sempre se fez presente na vida de muitas pessoas, e isso não poderia ser diferente no âmbito universitário. Sendo responsável por unir pessoas de diversos períodos, cursos e, mesmo, prédios, é por meio deles que muitos estudantes “escapam” da rotina de estudos, provas e trabalhos da Universidade.

Vytoria. Foto: Acervo pessoal

Esse é o caso de Vytoria Maria Alves Martins, 21, graduanda do curso de Farmácia da UFMG desde o primeiro semestre de 2024. Atleta das modalidades de futsal, handebol, basquete e futevôlei – “ou o que mais precisar”, como ela mesma diz –, já havia tido contato com atléticas na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Diamantina. Ao ingressar na UFMG, Vyt – como também é chamada pelos amigos – logo procurou integrar a Medusa, da qual hoje é, também, tesoureira.

“⁠Acho que é um escape da vida universitária, deixa a vida mais leve e é a parte que mais me faz esquecer os problemas”, diz a poliatleta, que tem o futebol de salão como sua melhor e principal modalidade. Vytoria sempre se interessou em ser atleta e participar dos treinos.“Mesmo às vezes estressando muito”, completa a estudante, natural de Belo Horizonte, dando risada.

Outra “figurinha carimbada” da Medusa é Gabriel Augusto de Sá Dias, 24, que entrou no curso de Farmácia no primeiro semestre de 2023. Em contato com o futebol desde pequeno, aos 5 anos de idade, já competia em diversos campeonatos em sua cidade, mas somente aqui expandiu seu “repertório esportivo”.

Nascido em Coronel Fabriciano, na região do Vale do Aço, Sá é membro da equipe de futsal da atlética e também já participou de competições por outras modalidades. “Aqui comecei a competir em outros esportes que nunca havia treinado antes. Um, por exemplo, de que eu gosto muito é o futevôlei, mas já participei de competições de atletismo, de basquete”, explica.

Assim que entrou no futsal, Gabriel viu o potencial da Medusa: foram campeões da Copa União. Além disso, viu não somente sua modalidade, como outras, crescerem ao longo do tempo. “Acredito que a Medusa em si vem crescendo muito, esportivamente falando. Vejo muito o futsal feminino, o vôlei e o hand também, tudo está indo muito bem neste último ano”, destaca.

Por detrás dos holofotes

Não somente de treinos, jogos e comemorações, tal como a já tradicional calourada Paracetamal, vive uma atlética. E isso não seria diferente na Medusa. Para além do manejo das equipes – que, por si só, já é uma tarefa que demanda muito tempo com pagamentos, auxílios e afins –, a diretoria executiva ainda é responsável por inúmeras tarefas, as quais vão dos campeonatos ao marketing das festas.

Sophia. Foto: João Paulo | Olhar

Capitã do time de futsal na época de escola e bailarina durante toda a vida, Sophia Modesto Melle, 21, ingressou em biomedicina no segundo semestre de 2023 e é, juntamente à Flávia e Vytoria, uma destas responsáveis. Apesar de já ter tido experiências de liderança, por exemplo como representante de classe quando mais nova, a posição de secretária da atlética revela-se algo mais complexo.

“Tá sendo bem desafiador, sendo sincera, é realmente muita coisa pra lidar, liderar, organizar, decidir. Mas tá sendo incrível, é muito legal, muito gratificante”, explica a estudante, natural de Vinhedo, SP, sobre a sua experiência no cargo. 

Além da atuação fora das quadras, Sophia integra o marketing da atlética e, ainda, atua como atleta nas modalidades de futsal e basquete – fora atuações esporádicas no atletismo –, o que expõe mais um dos desafios como uma das diretoras. Ao assumir a dupla responsabilidade de atleta e secretária, há uma dificuldade em conciliar as coisas, uma vez que deve estar presente como atleta e, também, “sempre estar ‘atenta’ para ouvir as necessidades, ideias e vontades do time como uma representante da atlética”.

Flávia Luz, que opera a atlética em colaboração com Sophia, também menciona a gestão de pessoas como desafiadora, ao se considerar uma associação com estudantes de farmácia e biomedicina que ocupam cargos no corpo diretivo os quais divergem das áreas de graduação na faculdade. Por se tratar de uma gestão que, para existir e funcionar, depende do interesse individual de cada estudante com a atlética, em um vínculo voluntário, é complexa a tarefa de balancear todas as tarefas, garantir o funcionamento, manter o interesse das pessoas em participar da gestão, ir às festas e competir nos esportes.

Flavinha relata que os impactos do desprestígio no cenário universitário podem ser vistos de maneira direta. Em conversas com membros de outras atléticas da UFMG, foram citados de modo especial o desinteresse pela continuidade da história das associações – especialmente após a pandemia –, as baixas adesões de atletas e a mentalidade conservadora de que atléticas são “idiotice” e não acrescentam em nada na vida.

“Acho que é um escape da vida universitária, deixa a vida mais leve e é a parte que mais me faz esquecer os problemas”, afirma Vytoria Martins.

De um semestre para o outro, por exemplo, modalidades passam a ter baixa adesão, times encontram-se sem treinadores, treinos deixam de ter horários e quadras no Centro Esportivo Universitário (CEU/UFMG) não são possíveis de serem reservadas. A gestão de uma associação com mais de 100 atletas – dos quais cerca de 40 fazem parte do corpo diretivo – pode ser tudo, menos simples, e a importância de uma rede de apoio que busca o crescimento da atlética se prova essencial. A presidente destaca a importância de Vitória e Sophia, secretária e tesoureira, respectivamente, que são fundamentais no quesito pessoal e institucional no funcionamento da Medusa.

Sophia, Flávia e Vytoria, em ordem. Foto: Acervo pessoal

Copa União 2025

Como o próprio nome sugere, o torneio vai muito além de uma simples competição. Aos finais de semana, centenas de alunos se mobilizam para jogar por sua atlética ou mesmo torcerem por aqueles em quadra – e na Medusa não é diferente. “É o que motiva os treinos, é o propósito de todo o trabalho e dedicação do atleta”, diz Sophia.

Com a entrada de um novo treinador nesta “temporada” e a adesão de várias novas atletas à modalidade, o futsal feminino da Medusa está de cara nova na competição deste ano – mas o favoritismo se mantém. “Estamos numa fase de adaptação”, destaca a secretária, porém, desta vez, falando como jogadora. 

Time de futsal feminino da Medusa. Foto: @vjvitor.

Na primeira rodada da Copa União, a equipe enfrentou a AALEB – atlética das Faculdade de Letras, Escola de Ciência da Informação (ECI) e Escola de Belas Artes (EBA) – em jogo que terminou empatado com o placar de 2×2. Na semana seguinte, enfrentou o Guará, que representa a Biologia, e saiu vitoriosa pelo placar de 2×1, garantindo a classificação para a fase de semifinais. “Esperamos ganhar a Copa União, já que na última ficamos em segundo lugar”, completa.

“Acredito que a Medusa em si vem crescendo muito, esportivamente falando. Vejo muito o futsal feminino, o vôlei e o hand também, tudo está indo muito bem neste último ano”, diz Gabriel Sá.

A modalidade masculina garantiu lugar na final após três vitórias em três rodadas. Com direito a jogadores da Medusa como MVPs dos jogos, o futsal masculino venceu, em ordem, a AALEB (3×1), a AAICEX (4×3) e a AAEAD – atlética da Escola de Arquitetura e Design (5×2).

Tirando a bola do chão e jogando para o alto, o futevôlei masculino também vem ganhando destaque. Na última edição, disputou o primeiro lugar da modalidade contra a dupla da Fafich, partida da qual saiu campeã. Neste ano, ainda se mantiveram no pódio. Em uma espécie de reedição da final anterior contra a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), a equipe saiu com o segundo lugar da competição.

No vôlei, a equipe feminina jogou contra a Saúde na primeira rodada da Copa União e, apesar de ter lutado pela vitória no tie-break, perdeu. A segunda e a terceira rodadas, entretanto, foram marcadas pela volta por cima da equipe, que ganhou de 2×0 da Athena, time do ICEX, e de 2×1 contra a AAFAFICH.

Equipe de vôlei da Medusa em jogo contra a Saúde. Foto: @vjvitor.

Já a equipe masculina encontrou um grande desafio no final de setembro: três jogos em um único fim de semana, dois pela LIA e um pela Copa União. Após a derrota na primeira semana, a equipe se reergueu contra a AAFAFICH na segunda rodada, por 2×1.

O handebol feminino participou de um jogo cheio de emoções pela primeira rodada do campeonato e, de virada, ganhou da AAFAFICH por 20×18. Após o segundo jogo contra a AAUCB – Associação Atlética Unificada de Ciências Biológicas da UFMG –, a equipe se classificou para as semifinais. A equipe masculina, ainda em processo de reconstrução, não participa da Copa União.

Como fazer parte da Medusa?

Contactar Flávia Luz – WhatsApp: (32) 8442-1692

Para demais dúvidas, enviar mensagem pelo Instagram: @medusa_ufmg

Expediente

Apuração e redação: Enzo Beber e Maria Polito

Edição: André Quintão

Coordenação: Ana Carolina Vimieiro

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Autor: Laboratório de Comunicação e Esporte

O Laboratório de Comunicação e Esporte é uma disciplina de graduação ofertada anualmente no Departamento de Comunicação Social (DCS) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pela professora Ana Carolina Vimieiro.

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