Esta edição fecha o 2025 da Revista Marta. Os números são incríveis: 58 estudantes de graduação e da pós participaram da produção de mais de 700 notícias e reportagens, 50 episódios dos nossos videocasts e mais de 450 posts de divulgação. Entre os resultados de destaque vale mencionar que alcançamos cerca de 1 milhão de visualizações no Instagram. Foi um ano de ampliação das atividades da revista e de muito aprendizado para todos nós.
No contexto do esporte universitário, acompanhamos um ano de transformações da UFMG. Parte delas, advinda de um trabalho importante da Comissão Permanente de Esportes da universidade da qual a Revista Marta é parceira.
As ações de docentes que compõem esta Comissão junto à luta de longa data dos discentes para mudar a forma como a UFMG vê o esporte universitário (e investe nele) tem colhido frutos importantes: a instituição foi a campeã geral dos Jogos Universitários Mineiros (JUMs) e enviou a maior delegação entre as universidades públicas do país aos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), ambos em 2025.
Os desafios também permanecem: a Copa União, tradicional competição interna do segundo semestre da UFMG, enfrentou empecilhos financeiros e administrativos para acontecer em 2025 e a Liga das Atléticas (LAU), organização de discentes por trás do Inter UFMG (campeonato do primeiro semestre), teve dificuldades na sucessão administrativa para a gestão 2025/2026.
Produzir as duas edições especiais focadas nas atléticas ajudou a iluminar as importantes funções que o esporte universitário desempenha no contexto da UFMG, além de revelar constrastes marcantes de perfil das associações que refletem e, em alguma medida, podem reforçar desigualdades presentes na instituição e na sociedade.
Entre as funções, chama a atenção nos relatos das/os estudantes envolvidas/os com as atléticas a importância que estas têm para a construção de laços identitários e senso de pertencimento à vida universitária. Estudantes, principalmente de graduação, vivem a universidade nas salas de aula, projetos de pesquisa e de extensão da instituição, mas também na convivialidade que marca as atléticas. Espaços de sociabilidade, as atléticas são muito importantes para os estudantes de fora de Belo Horizonte, que muitas vezes constroem redes de suporte e amizades para vida toda neste contexto.
E o fortalecimento dos laços tem impactos diversos, incluindo a reocupação da universidade. A atlética da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), por exemplo, percebeu que a associação podia ser um importante mecanismo para enfrentar o afastamento estudantil na universidade. Vendo que o engajamento de discentes com atividades extra-classe está em declínio por diversas razões, incluindo a pandemia, que parece ter sido a pá de cal que decretou o fim dos corredores lotados, cantinas borbulhando, salas abarrotadas e disputa até pelas vagas de estacionamento, a AAFafich ou Meia Noite se imbuiu de uma função política: é pertencimento e resistência porque “viver a UFMG vai muito além de assistir aula e buscar estágio logo nos primeiros semestres”, nos contou o atual presidente Felipe Gonzaga.
Muitas/os estudantes, principalmente as/os envolvidas/os na gestão das associações, também relatam que as atléticas são escolas para a vida e para o mundo do trabalho: se aprende senso de responsabilidade e organização, lidar com a pressão, resolver problemas de diversas naturezas, ter que conviver com pessoas muito diferentes, trabalhar em equipe e lidar com rotinas de sobrecarga, em que é preciso conciliar estudo, trabalho e lazer.
Por outro lado, as atléticas parecem também servir de alívio para esse turbilhão de coisas, atuando principalmente na preservação da saúde mental do alunado. É ali que as/os estudantes encontram o equilíbrio necessário entre rotinas puxadas. É ali que têm finalmente um tempo para si, para o cuidado do corpo e da alma. É como uma válvula de escape. Se a universidade pode ser um espaço de adoecimento e sofrimento com sua cobrança desmedida e a falta de políticas de apoio à saúde mental de estudantes e servidores, as atléticas parecem ser um antídoto, pelo menos entre estudantes, promovendo qualidade de vida e bem-estar.
E é aí que é importante também entendermos os constrastes marcantes de perfil das associações atléticas da universidade. Estes contrastes estão nos tamanhos (algumas com 25 integrantes outras com mais de 400), nível de organização (algumas com várias diretorias, outras com uma ou duas pessoas que carregam tudo nas costas), nas formas de financiamento (algumas com patrocínios privados vultuosos e acessando a Lei de Incentivo ao Esporte, enquanto outras fazem vaquinha e não cobram mensalidade porque não têm como), nas modalidades praticadas (algumas com duas ou três e outras com mais de vinte), entre outras coisas.
Vemos claramente disparidades de gênero no esporte universitário com torneios como a LIA (Liga Inter Atléticas interna de vôlei) de 2025 sem ter categoria feminina, ainda que o vôlei seja possivelmente a modalidade mais popular na UFMG, e a inexistência, por exemplo, de equipe de futebol de campo de mulheres na universidade. Vemos também a ausência de competições que incluam pessoas com deficiência, assim como um perfil de classe que torna o futebol de campo universitário em Belo Horizonte um contexto bastante embranquiçado.
Perceber esses contrastes é entender que o esporte universitário muitas vezes reflete desigualdades existentes na UFMG (por exemplo, diferenças entre as faculdades, escolas e institutos) e na sociedade. Mas é também perceber que ele precisa ser uma ferramenta política de transformação: os diversos corpos e mentes que ocupam a universidade precisam se beneficiar dessas funções positivas que o esporte universitário tem de formas mais equânimes. Porque todo mundo tem direito ao lazer, sociabilidade, saúde mental e sentir que pertence neste espaço. Isso não deve ser um privilégio.
As próprias atléticas tem apontado alguns caminhos: por exemplo, a Fênix Esports atua num contexto marcado historicamente pela desigualdade de gênero, o dos games. Ainda assim, tem buscado atuar de forma a reforçar o compromisso com a inclusão e diversidade: diretorias 100% femininas e criação de conteúdos e jogos adaptados para pessoas dentro do espectro autista. “É essencial que mulheres ocupem cargos de destaque. Ainda há muito preconceito, e essas presenças ajudam a abrir portas e inspirar outras meninas a fazerem parte”, destacou a estudante Júlia Lanna, integrante da atlética e fundadora da Herdeiras da Tradição (HDT), a maior torcida organizada feminina de esports do Brasil.
Assim, faço um convite à leitura de nossa comunidade universitária: foram cerca de 40 entrevistas com estudantes, gestoras/es e ex-integrantes das atléticas da casa. Cerca de 30 alunas/os de graduação envolvidas/os com a produção das reportagens. Para entregar a vocês um pouco do que são as atléticas da UFMG e tudo que elas fazem e representam para o corpo discente. E também construirmos juntos caminhos para fortalecer o esporte em nossa instituição.
Boa leitura e um ano de 2026 ainda mais prolífico para a Revista Marta e para o esporte na UFMG!