Mais do que uma atlética, a AAFAFICH se consolidou como um espaço de convivência e identidade para os estudantes da FAFICH. Desde sua fundação, a entidade uniu esporte, cultura e engajamento social para fortalecer os laços entre os alunos, transformando o roxo e o amarelo em símbolos de diversidade, acolhimento e resistência dentro da UFMG.
Por Emanuel Cortez (@emanuel_altair), estudante de jornalismo da UFMG
A pulsar no centro da vida esportiva e estudantil da Universidade Federal de Minas Gerais, a Associação Atlética da Faculdade de Filosofia e Ciência Humanas da UFMG (AAFAFICH) emerge como um símbolo de união, espírito competitivo e integração acadêmica. Fundada em 11 de setembro de 2013 por Débora Malaguth, a Atlética abraça os mais de 3 mil alunos dos cursos da FAFICH, do Instituto de Geociências (IGC) e da Faculdade de Educação (FaE) e posiciona-se como um agente de sociabilidade dentro da universidade.
No cotidiano universitário, a AAFAFICH, ou Meia-Noite, como também é conhecida, se apresenta como espaço de encontro de diferentes cursos, onde o esporte, a festa e a convivência se entrelaçam. O desafio de conciliar formação acadêmica com treinos, jogos e identidade atlética é abraçado com paixão pelos atletas, como destaca André Florêncio, Diretor Esportivo e poliatleta da AAFAFICH:
“É muito bacana perceber que, no começo da graduação, eu praticava mais esportes, e isso não atrapalhava muito na minha rotina na questão de tempo, mas conforme vai chegando no final [da graduação] fica mais difícil de conciliar, eu tenho até tentado diminuir um pouco o número de esportes que pratico. […] Nos últimos dois anos, meus fins de semana são todos lá no CEU (Centro Esportivo Universitário), seja pra treinar, jogar ou acompanhar os outros esportes, em prol da atlética”.
Desde o início, os idealizadores da Atlética visualizaram mais do que apenas formar times: a missão era fomentar a prática esportiva entre estudantes dos vários cursos vinculados, promover integração por meio de atividades socioculturais e instituir um espírito de coletividade que ultrapassasse o campo de jogo. Com o passar dos anos, a AAFAFICH se consolidou como ponto de referência dentro da universidade para estudantes que querem se engajar no esporte universitário, bem como para quem busca participar de eventos, festas e atividades culturais que a entidade organiza. O atual presidente da AAFAFICH, Felipe Gonzaga, destaca essa relação da atlética com o meio universitário:
“Acima de tudo, acredito que as atléticas da UFMG são as grandes fomentadoras do esporte universitário. Mas, para além do esporte, vejo as atléticas como espaços de resistência e pertencimento. […] Nosso plano de gestão atual nasceu de um diagnóstico claro: os estudantes têm se afastado da universidade quando o assunto é vida extra-classe. Queremos mostrar que viver a UFMG vai muito além de assistir aula e buscar estágio logo nos primeiros semestres. Ser parte da AAFAFICH é descobrir novas possibilidades, criar vínculos e fazer da universidade um lugar mais humano”.
Hoje, a Atlética abrange todos os 17 cursos da FAFICH, IGC e FaE, além do curso de Ciências do Estado, vinculado à faculdade de Direito, sendo eles: Antropologia, Arqueologia, Ciências Sociais, Ciências Socioambientais, Filosofia, Gestão Pública, História, Jornalismo, Psicologia, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Formação Intercultural para Educadores Indígenas, Geografia, Geologia, Licenciatura em Educação do Campo, Pedagogia e Turismo. Além disso, a AAFAFICH costuma fazer parcerias com a Associação Atlética da Faculdade de Letras, Escola de Ciências da Informação, Escola de Belas Artes e Escola de Música (AALEB) para incluir atletas na delegação da Meia-Noite em competições externas à UFMG.
Modalidades esportivas e competições

Atualmente, as principais competições disputadas pela AAFAFICH são a Copa Inter Atléticas (CIA), torneio universitário anual realizado em Uberaba (MG), que se consolidou como um dos maiores eventos esportivos universitários do Brasil, reunindo mais de 130 atléticas do país; o Inter UFMG, principal competição interna da UFMG, que ocorre no primeiro semestre do calendário acadêmico; e a Copa União, torneio também interno da universidade, que ocorre no segundo semestre. Além destas competições, algumas modalidades do Meia-Noite disputam torneios internos e externos, como o Metropolitano Universitário, a Liga Inter Atléticas de Vôlei e a Copa UNITRI de Handebol.
A AAFAFICH possui uma das maiores delegações entre as atléticas da UFMG com mais de 200 atletas ativos, distribuídos em 18 modalidades esportivas, e cerca de 60 pessoas na sua gestão, que compõem sete setores. As modalidades esportivas incluem o Atletismo, Basquete (feminino e masculino), Cheerleading, E-sports, Handebol (feminino e masculino), Futebol de Campo, Futevôlei, Futsal (feminino e masculino), Natação, Peteca, Tênis de Mesa, Tênis de Campo, Vôlei de areia e Vôlei de quadra (feminino e masculino).
Considerando os resultados mais recentes, a peteca têm sido um dos esportes de maior sucesso para a atlética, já que conquistou duas medalhas na última edição da Copa Inter Atléticas (Ouro no feminino e Prata no masculino), um ouro em cada uma das últimas duas edições da Copa União (2024 e 2025), além de uma prata no Inter UFMG de 2025. Outras modalidades que tem se destacado recentemente são o futsal feminino, medalha de ouro na CIA 2025, e o handebol masculino, atual campeão da Copa União e vice-campeão da 1ª divisão do Inter UFMG 2025. Analisando o crescimento da AAFAFICH, Felipe Gonzaga atribui esse sucesso à um trabalho que têm sido desenvolvido há anos no cenário esportivo da UFMG:
“Apesar de já termos um histórico de pódios e presença constante na Copa União, 2024 marcou a primeira conquista do título geral, resultado direto do trabalho iniciado ainda em 2023 por Mateus Vieira (Publicidade) e Nathalia Andrade (Ciências Sociais), então diretores de esportes. Ambos, com experiência prévia como atletas amadores, criaram um cadastro unificado de atletas, aproximando modalidades e aprimorando o gerenciamento das equipes. Além disso, instituíram auxílios esportivos que cobriram parte significativa dos custos de campeonatos internos da UFMG, garantindo acessibilidade aos estudantes FUMP e fortalecendo o engajamento das equipes”.
Além disso, é necessário destacar o Futebol de Campo da FAFICH, que se consolidou não apenas pelo desempenho dentro das quatro linhas, mas também como um ícone da identidade faficher. A coleção dos uniformes clássicos da equipe ultrapassou o status de material esportivo e se transformou em patrimônio simbólico da faculdade, vestindo tanto os atletas quanto a comunidade da FAFICH.

Falando sobre confrontos históricos do Meia-Noite, seria impossível não mencionar a rivalidade da AAFAFICH com a atlética do Instituto de Ciência Exatas da UFMG (AAAICEx), a Atena, permeada pela clássica contraposição de “Humanas contra Exatas”. Além disso, também é importante destacar a rivalidade atual contra a atlética da Faculdade de Ciências Econômicas (AAFACE ou Hermes), que emergiu como um dos principais adversários esportivos da AAFAFICH nos últimos anos.
“Sempre tivemos uma rivalidade muito grande com o ICEx, acho que é uma rivalidade praticamente ideológica, na ideia de ‘Humanas contra Exatas’. Mas a verdade precisa ser dita, o ICEx caminhou junto com o esporte universitário e caiu de rendimento, enquanto a FAFICH caminhou contra o esporte universitário e aumentou o rendimento. Está muito nítido que, desde a pandemia, o esporte universitário na UFMG está em uma decrescente, por falta de investimento, queda de rendimento esportivo nas atléticas, entre outros”, afirma André Florêncio.
Conheça o Meia-noite, mascote da AAFAFICH

O mascote da AAFAFICH, o gato “Meia-noite”, é uma das figuras mais queridas e emblemáticas da comunidade da FAFICH. Sua história nasce de uma homenagem aos gatos que, há mais de uma década, vivem nos arredores e corredores do prédio da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, no campus Pampulha. Esses animais, que já foram perseguidos e até envenenados, passaram a ser acolhidos e cuidados por estudantes, servidores e professoras/es, transformando-se em um símbolo de resistência, acolhimento e adaptação.
“Nosso mascote, o Meia-noite, é um gato que carrega muito da identidade faficher. […] Quando as atléticas começaram a se expandir pela UFMG, cada unidade acadêmica escolheu símbolos que representassem suas realidades e valores, e o gato foi adotado para representar o estudante ‘tilelê’, como eram conhecidos os fafichers. Com o tempo, o Meia-noite foi redesenhado e ganhou a forma que conhecemos hoje, resultado de um processo participativo em que o público escolheu seu nome nas redes sociais”, explica Felipe Gonzaga.
Eventos da AAFAFICH
A AAFAFICH mantém um calendário de eventos que reflete tanto a identidade vibrante da FAFICH quanto o compromisso da Atlética com o esporte e a cultura. O principal deles é a Fafiesta, considerada o evento mais tradicional da casa. Realizada uma vez por semestre, a festa é sempre temática e possui identidade própria. Hoje, a Fafiesta é símbolo da convivência e da pluralidade que definem a faculdade e a sua comunidade.
Outro momento marcante do calendário é o Prêmio João Ameno, popularmente conhecido como “Melhores do Ano”. A cerimônia acontece anualmente e homenageia os maiores destaques esportivos femininos e masculinos da FAFICH. O prêmio leva o nome de João Ameno, ex-atleta lembrado pelo espírito coletivo, pela garra e pelo senso de pertencimento que simbolizam a história da AAFAFICH. Na premiação de 2024, a AAFAFICH deu um passo importante para valorizar sua própria trajetória ao criar o “Hall da Fama”, espaço destinado a eternizar os nomes que marcaram a história esportiva da Atlética. A iniciativa busca reconhecer atletas que, ao longo dos anos, contribuíram para construir o espírito coletivo, a garra e a representatividade da FAFICH nas competições universitárias.
Entre os primeiros homenageados está Henrique Caixeta, doutorando em Comunicação pela UFMG e integrante da atlética desde 2015. Referência dentro e fora das quadras, Caixeta foi lembrado não apenas por suas conquistas esportivas, mas também pela dedicação à comunidade faficher:
“Entrar pro Hall da Fama foi um reconhecimento muito importante. Eu estou a 10 anos na atlética e acho que não tem nada na minha vida que eu tenha dedicado tanto tempo para o desenvolvimento, para fazer algo crescer, como foi minha dedicação com a atlética. Fui atleta de diversas modalidades, diretor, vice-presidente, fiz de tudo que podia ser feito. Então, ser reconhecido por pessoas que não viram eu fazer tudo isso é muito importante pra mim. Quando eu entrei a atlética era um neném ainda e hoje em dia é uma das maiores atléticas da UFMG e de Belo Horizonte. […] Ver a atlética do tamanho que ela está é motivo de muito orgulho para mim, então, mais do que o reconhecimento de ter sido introduzido no Hall da Fama, ver onde a atlética chegou e sentir que meu trabalho foi importante nisso é o mais importante pra mim”.
Nos últimos anos, a Atlética também passou a promover o Simpósio da AAFAFICH, uma iniciativa de caráter acadêmico e formativo. O evento busca aproximar o esporte de debates sociais e políticos, reunindo palestrantes de diferentes áreas para discutir o papel das práticas esportivas como instrumentos de educação e transformação social. A proposta reforça a visão da Atlética de que o esporte vai além da competição, mas também um meio de reflexão e engajamento.
No início de cada semestre, a atlética também organiza a Recepção de Calouros, voltada a apresentar aos novos estudantes a história, os valores e as oportunidades de participação na entidade. Em algumas edições, o evento se estende à Calourada Meia-Noite, uma festa mais intimista e voltada à integração dos ingressantes, organizada conforme o perfil e o interesse do público de cada semestre.
Histórias na atlética
Algo comum dentro do esporte universitário é praticar mais de um esporte ao mesmo tempo, jogar uma partida depois de virar a noite na festa, como na CIA, ou até mesmo completar o time em alguma modalidade que você nunca disputou na vida. Nesse sentido, atletas compartilharam algumas histórias interessantes e engraçadas que viveram com a Meia-Noite:
“Eu já joguei três partidas no mesmo dia algumas vezes. Teve uma vez que eu joguei vôlei, handebol e basquete, nessa ordem. Quando eu fui pro basquete eu já estava completamente destruído. Isso acontece muito na CIA, por exemplo. Teve vezes que eu joguei vôlei, handebol e peteca no mesmo dia, e na CIA ainda, que você dorme pouquíssimo por causa das festas. Mas é uma experiência legal. Não pra minha saúde física, mas pra quem ama esporte, enquanto eu estou fazendo esporte eu estou feliz”, contou André Florêncio.
Henrique Caixeta também descreve experiência semelhante:
“Uma história engraçada foi uma vez que fui correr os 100 metros rasos no atletismo porque não tinha ninguém. Foi no ano das olimpíadas no Brasil e a UFMG tinha um time muito forte no atletismo, inclusive com dois atletas que estavam disputando para entrar no time olímpico do Brasil e eram alunos da UFMG. Eu fui correr os 100m rasos sem saber disso, era jovem, tinha 18 anos, o pessoal estava com a sapatilha própria para correr e eu cheguei com uma bermuda grande, que me fizeram trocar porque não podia usar, peguei um tênis emprestado, vesti uma orelhinha de gato na cabeça e fui correr. Quando dispara o tiro de largada e a gente começa a correr, o pessoal da FAFICH começar a gritar meu nome e, quando fui ver, o primeiro colocado terminou a corrida e eu ainda estava na metade e o pessoal parou de cantar”, narra aos risos Henrique Caixeta.
Como se tornar membro?
Todo estudante dos cursos da FAFICH, IGC, FaE ou de Ciências do Estado já é, automaticamente, um associado da AAFAFICH. A partir desse pertencimento, há duas formas principais de se engajar ativamente: como atleta ou como membro da gestão.
Para quem deseja se tornar atleta, basta acompanhar as comunicações feitas nos perfis oficiais da AAFAFICH (@aafafich) e das modalidades específicas, no Instagram, ou entrar em contato com o Coordenador da modalidade de interesse. A atlética possui, em seu perfil, um destaque com o contato dos coordenadores, além de ser possível entrar em contato com a própria atlética via “direct” para receber as informações. A maioria das modalidades possui estrutura para receber novos integrantes a qualquer momento, o que facilita o ingresso de calouros e veteranos interessados em praticar esporte universitário.
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Redação: Emanuel Cortez
Apuração: Emanuel Cortez
Edição: André Quintão
Coordenação: Ana Carolina Vimieiro