A taça do mundo é nossa?

Por Matheus Andrade Hermógenes (@mathmais_)

A Copa do Mundo FIFA Catar 2022 se encerrou no domingo (18/12) com o tricampeonato mundial da seleção argentina. Para além dos anfitriões cataris, os hermanos, liderados por Lionel Messi, talvez serão os únicos a realmente lembrarem com carinho do primeiro mundial realizado no Oriente Médio. Passada a ressaca da eliminação para a Croácia e de vermos nossos maiores rivais se sagrarem campeões mundiais, os desdobramentos desta edição já vinham sendo estudados desde antes e continuarão a provocar discussões tanto na mídia, quanto no mundo acadêmico, ou até mesmo nas mesas de botequim.

Se por um lado a 22ª edição do torneio organizado pela Federação Internacional de Futebol ficou marcada pelas zebras e pelo recorde de gols anotados – superando a marca registrada em 2014 quando os anfitriões fomos nós, brasileiros-, por outro, as polêmicas envolvendo violações de direitos humanos contra populações lgbtqiap+, mulheres e trabalhadores de origem no sudeste asiática, também serão marcas indeléveis de uma série de querelas iniciadas desde a escolha do país asiático como sede do mundial, num longínquo 02 de dezembro de 2010.

Ao lado da Rússia, escolhida para sediar a edição de 2018, o pequeno emirado situado na península catari, essa ainda na península arábica, teve todo o processo de eleição e organização do maior evento do futebol mundial regada por rios de dinheiro advindos da exploração de gás e petróleo no Golfo Pérsico, passando por ameaças de guerra e um boicote promovido pelos demais países árabes, pela proximidade política entre Doha e Teerã. 

A escolha desencadeou um enorme processo jurídico por parte das justiças da Suíça e dos Estados Unidos, país derrotado na votação em Zurique. Desde então, o “FIFAGate” desbaratou um esquema de corrupção que envolvia muita mais que a escolha das sedes dos mundiais e  resultou na queda do presidente da Federação, Joseph Blatter, responsável pela escolha do maior e do menor países a sediar uma Copa do Mundo, respectivamente, em duas edições seguidas.

Desde as gestões do brasileiro João Havelange à frente do órgão máximo do esporte, a relação estreita que a FIFA desenvolveu com, senão regimes autoritários, regimes que caminhavam para a autocracia, nunca foram segredo. Vide as gordas cotas de patrocínio despejadas na Federação por Wanda e Gazprom, estatais de petróleo chinesa e russa, respectivamente também. 

As facilidades exigidas pela Federação para a organização de seu principal evento acabavam por criar verdadeiros governos paralelos dentro dos sistemas legais e tributários dos países-sede que terminavam se submetendo. O que se viu no Catar, entretanto, foi o contrário. 

Proibida de vender cerveja nos estádios e arredores, por motivos religiosos, a apenas dois dias da cerimônia de abertura, a Budweiser, patrocinadora do evento, destinou todo o lote de bebidas alcoólicas para o país campeão. A FIFA, por sua vez, na figura de seu atual presidente, o italiano Gianni Infantino, teve de acatar a resolução do Governo local e comprar a briga dos árabes também nas questões políticas e culturais.  Se Infantino se apegou ao Catar, seu antecessor, Blatter, admitiu ter sido um erro o aval à escolha do país por parte do conselho da Federação. 

TODO MUNDO TENTA

Agitado por uma crise política que se estende já há uma década, o maior campeão mundial do esporte bretão viu chegar ao dobro deste tempo o seu jejum de títulos. Pentacampeão com sua seleção, em 2002, na Coreia e no Japão, o Brasil viu se sucederem eliminações para países europeus nas quartas-de-final desde a edição seguinte, em 2006, na Alemanha. 

A mesma Alemanha que nos impôs, se não a maior, a mais dolorosa derrota da nossa história futebolística, justamente na única oportunidade em que passamos às semifinais, em casa, em 2014. 

As crises fora e dentro de campo, na política, institucional e esportiva, aliada à migração ainda jovem de nossos jogadores rumo aos principais campeonatos na Europa, provocam um sentimento de desconexão de nossa seleção com a torcida e vice-versa. Para 2026, o jejum se estenderá para os mesmos 24 anos entre o tri e o tetracampeonato, encerrado justamente nos Estados Unidos, sede da próxima edição, ao lado de Canadá e México, sede do tricampeonato. 

Esta edição da Revista Marta, portanto, se debruça sobre o quanto as questões internas e externas tangentes ao futebol impactam a nossa torcida e nossa relação com os símbolos nacionais.

Encerrada a Copa no Qatar, em seis meses teremos a Copa do Mundo Feminina, também da FIFA, na Nova Zelândia e na Austrália. A espera maior por essa edição masculina, quatro anos e meio, se transforma em um ciclo menor para a próxima. Três anos e meio nos separam da 23ª terceira edição. Como chegaremos lá? Como será a relação das mulheres com o futebol, dentro e fora do campo? Apesar da tutela vivida pelas mulheres no Catar, tivemos a estreia delas nas equipes de arbitragem e boa representação feminina na cobertura jornalística. 

Como a população lgbtqiap+ viverá esse ciclo e como a imprensa cobrirá um mundial na auto-intitulada nação mais livre do mundo? São perguntas sobre as quais, se não respondidas aqui e agora, poderemos nos arriscar a responder daqui para frente. Até lá, todo mundo tenta, mas só o Brasil é penta. 

Editora-chefe: Ana Carolina Vimieiro

Chefe de Redação: Flaviane Eugênio

Editorial: Matheus Andrade Hermógenes

Editores: Gustavo de Oliveira Souza, João Victor Silva de Carvalho e Matheus Andrade Hermógenes

Equipe de reportagem: Maria Carolina Gonçalves Martins de Andrade, Diego Therezo de Souza Graim, Wesley Felix, Leone de Vilhena Silva Brabo, Filipe Ribeiro Nascimento, Izabela Baeta da Costa, Alice Alves de Souza e Luiz Henrique Fernandes de Freitas, Vinicius Fernandes Morais e Antônio Júlio Santos Ferraz, Rafaela Oliveira Lacerda e Elisa Reis Bicalho.

Produção: Douglas Antônio Gomes de Oliveira, Leone de Vilhena Silva Brabo, Filipe Ribeiro Nascimento, Izabela Baeta da Costa, Alice Alves de Souza e Luiz Henrique Fernandes de Freitas, Vinicius Fernandes Morais, Antônio Júlio Santos Ferraz, Rafaela Oliveira Lacerda e Elisa Reis Bicalho.

Podcast: Leone de Vilhena Silva Brabo, Filipe Ribeiro Nascimento, Izabela Baeta da Costa, Alice Alves de Souza e Luiz Henrique Fernandes de Freitas.

Audiovisual: Vinicius Fernandes Morais e Antônio Júlio Santos Ferraz.

Fotografia e Infografia: Andrei Megre Souto, Rafaela Oliveira Lacerda.

Equipe de comunicação institucional: Júlia Karoline de Almeida Cruz, Dominic Malaquias Braz e Matheus dos Santos Silva.

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