Confira o levantamento que fizemos dos resultados brasileiros nas Olimpíadas e Paralimpíadas desde 2004
por David Pedra e Nathália Araujo

Os Jogos Olímpicos de Verão são realizados de quatro em quatro anos, em local definido previamente pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). De acordo com a Carta Olímpica – o documento que contém as regras e guias para a organização dos jogos – de 1896, ano da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, o significado da palavra Olimpíada é o período de quatro anos civis entre a realização de dois jogos olímpicos de verão.
Mais de sessenta anos se passaram dos primeiros jogos e só então foi realizada a primeira edição dos Jogos Paralímpicos, voltados para pessoas com deficiência. Em 1960, em Roma, o evento ainda contava com poucos países. Rapidamente, porém, se popularizou, contando com 40 países já em 1976. Contudo, o ano histórico mesmo para as Paralimpíadas foi 1992. Isso porque, pela primeira vez, o Comitê Paralímpico Internacional – criado em 1989 – trabalharia com o Comitê Olímpico Internacional de forma conjunta.
O ano de 2016 foi marcante para o Brasil como um todo, e especialmente para a cidade do Rio de Janeiro, que foi escolhida para sediar a 32° edição dos jogos. Foram 206 nações participantes, 39 modalidades disputadas e mais de 11 mil atletas inscritos. Os jogos tiveram duração de 16 dias, com cerimônia de abertura no dia 5 de agosto e de encerramento no dia 21 do mesmo mês. As Paralimpíadas tiveram o seu início algumas semanas depois, em 7 de setembro. A duração foi de 11 dias, se encerrando no dia 18 daquele mês. Foram 176 países participantes, cerca de 4.500 atletas inscritos e 22 modalidades disputadas.
Passados mais de quatro anos e meio depois dessas edições, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos ainda não voltaram a acontecer. A pandemia da Covid-19, que afetou todo o mundo, impediu a realização dos eventos em 2020. Mas o quanto uma pandemia pode afetar eventos desse porte? O que se esperar de um país como o Brasil, que teve o seu melhor desempenho em medalhas da história nos Jogos de 2016 (e ser anfitrião influenciou nestes números), mas foi um dos mais afetados pelo vírus e vive uma enorme crise econômica?
Os números de 2016
Para entender melhor o sucesso dos atletas que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, precisamos saber os números que alcançamos no evento. Em comparação com jogos anteriores, mais precisamente de 2004 para cá, veja a evolução dos atletas brasileiros:
A pandemia
A pandemia da Covid-19 afetou todo o mundo. Com mais de 2 milhões e 600 mil óbitos em todos os países, o vírus forçou diversas mudanças em nossa sociedade, como a proibição de aglomerações. Por esse motivo, a grande maioria dos eventos esportivos – que permaneceram paralisados por um bom tempo em vários lugares – não contaram com a presença do público. No dia 20 de março passado, o comitê local anunciou que os jogos de Tóquio não contarão com público estrangeiro.
Segundo a prefeitura do Rio de Janeiro, nos Jogos Olímpicos de 2016, a cidade recebeu mais de 1 milhão de visitantes para o evento. Cerca de 40% desse montante eram turistas do exterior, ou seja, viajaram de outros países para a Cidade Maravilhosa. Só com esses dados é possível notar como a pandemia irá afetar os jogos.
Além disso, ainda há o perigo para a população japonesa. Mesmo sem público estrangeiro, os Jogos Olímpicos provocam aglomerações, o que pode ser propício para a disseminação do vírus. De acordo com Marco Túlio de Mello, professor do Departamento de Esportes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e consultor do Comitê Olímpico do Brasil (COB), “a população japonesa é mais idosa, precisa de mais atenção”. Ainda segundo o professor, esse é um dos motivos para a resistência dos japoneses para a realização dos eventos e para o recebimento de público estrangeiro. Para se ter ideia, em pesquisa publicada no início de janeiro pela Kyodo News, 80% dos japoneses defendiam o cancelamento ou adiamento dos Jogos Olímpicos de 2020. Outra pesquisa, esta mais recente e publicada neste mês (março de 2021), realizada pelo jornal Yomiuri, mostra que 77% da população é contra a entrada de turistas estrangeiros no país.
O assunto, claro, é delicado. O recebimento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos é ótimo para a economia local, principalmente pelo alto número de turistas na cidade. Ter os gastos da realização do evento e não contar com os retornos econômicos pode ser prejudicial para qualquer governo. Por outro lado, e sem dúvidas mais importante, está a situação etária da população japonesa. É sabido que a Covid-19, causada pelo novo coronavírus, é mais perigosa para pessoas mais velhas, chegando a um percentual letal de 3,6% em pessoas com mais de 80 anos. O Japão é um dos países com a população mais velha de todo o mundo. Segundo o site countryeconomy.com, mais de 28% dos japoneses têm mais de 64 anos. A expectativa de vida é uma das maiores do mundo, com média de 84 anos.
Para o professor Marco Túlio, a solução é a vacinação dos atletas inscritos:
“Querendo ou não, os atletas terão de ser vacinados e, além disso, terem uma boa resposta à vacinação. Isso deve acontecer para que eles não se contaminem entre si e não passem essa doença para a população japonesa.”
MARCO Túlio de mello, professor da EEFFTO/UFMG e consultor do cob
No entanto, não há, até o momento, confirmação de que as delegações serão vacinadas antes dos Jogos de 2021.
Para a atleta paralímpica Izabela Campos, do arremesso de peso e lançamento de disco, o adiamento foi correto, mas atualmente já há condições para a realização do evento:
“Na minha opinião foi certa (a decisão de adiar), porque estava vindo um vírus desconhecido e devastador. Nesse momento, que já temos as vacinas, eu acho que é viável acontecer a Olimpíadas e Paralimpíadas, já que o protocolo será uma competição sem público e mais reservada e com toda a proteção que terá, acho certo de tê-la.”
Izabela Campos, atleta paralímpica
O desempenho em uma pandemia
Além do perigo para a população, a pandemia, obviamente, também afetou a vida dos atletas. Competições preparatórias foram canceladas, alguns contraíram a doença, outros foram impedidos de treinar devido às regras de quarentena de sua cidade.
Perguntado sobre a questão do desempenho dos atletas frente a essa situação, Marco Túlio reforça: “Acho que impacta sim. Tivemos menos campeonatos mundiais, menos provas, menos competições. Algumas modalidades, como o judô, tem muitas competições durante o ano e outras nem tanto, e são essas acostumadas a terem mais que serão mais impactadas. Isso recai nos resultados, assim como a dificuldade que alguns países estão tendo para treinar.”
Para Marco Túlio de Mello, será um pouco mais difícil que recordes olímpicos sejam batidos: “Podemos ter recordes sim, mas é mais complicado. Nem todos os países chegarão com uma igualdade na competição como acontecia antes.”
Para fins de comparação, uma queda no número de quebras de recordes não seria novidade, já tendo acontecido com os Jogos Olímpicos do Rio em relação aos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. O evento realizado na Inglaterra, segundo levantamento feito pela Folha de São Paulo, teve 41 recordes batidos, enquanto os jogos no Brasil registraram 29 quebras de recordes.
E o Brasil?
O Brasil foi um dos países mais afetados pela pandemia da Covid-19 em todo o mundo. Em números absolutos, foi o segundo que mais sofreu, atrás apenas dos Estados Unidos. Sendo assim, como projetar a participação da delegação brasileira para 2021?
Já falamos anteriormente que o desempenho em 2016 foi o melhor de nossa história, com 19 medalhas no total dos Jogos Olímpicos e 72 no Paralímpico. De acordo com o COB, a projeção é de melhora. Em entrevista ao Globo Esporte, Jorge Bichara, diretor de esportes do Comitê, diz que todos os países do mundo estão trabalhando duro para conseguir um melhor resultado nesse ciclo, e com o Brasil não é diferente.
O histórico, no entanto, não é favorável. Nas últimas 10 Olimpíadas, geralmente os países sede alcançam piores resultados nos jogos subsequentes. A única exceção foi a Grã-Bretanha, que conseguiu 65 medalhas em 2012 e 67 em 2016, no Brasil.
Além do COB, alguns atletas também se mostram até mais otimistas, como é o caso de Izabela. Segundo a medalhista olímpica, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) está se esforçando ao máximo para dar suporte aos atletas, com segurança e com a consciência de que estamos no período de pandemia. “Estão visando a Paraolimpíada, para que todos os atletas tenham uma boa performance. Como consequência, o Brasil vai ter boa colocação na competição”. A atleta foi medalhista de bronze na Paralimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.
As novas modalidades nas Olimpíadas
Os Jogos Olímpicos de Tóquio contarão com 5 novas modalidades em relação ao evento do Rio de Janeiro. Serão: beisebol, caratê, escalada, skate e surfe. Elas irão valer medalhas, mas ainda não são considerados esportes olímpicos, e sim “esportes convidados”. Os dois primeiros irão entrar pela popularidade no Japão. Os outros são parte de um experimento do COI, que visa atrair maior público jovem para o evento.
Para o Brasil, segundo o professor Marco Túlio, a inclusão é benéfica: “Creio que essa inclusão é muito benéfica para o Brasil. Já que são esportes em que temos bons atletas para representar o país como no surfe e no skate.”
No surfe masculino, dos últimos seis campeões do Circuito Mundial, quatro são brasileiros: Gabriel Medina ganhou duas vezes (2014 e 2018), Adriano de Souza (2015) e Ítalo Ferreira (2019).
Já no skate masculino e feminino, as perspectivas também são boas. Dos três melhores homens ranqueados, dois são brasileiros: Luan Oliveira (2°) não irá disputar os Jogos, mas Kelvin Hoefler (3°) está confirmado. Entre as mulheres, o cenário é parecido, mas a colocação é ainda melhor: Pamela Rosa ocupa a primeira posição e Letícia Bufoni a segunda.
Novas modalidades nas Paralimpíadas
Ao todo, para as Paralimpíadas de 2020, em 2021, serão disputadas 22 modalidades, o mesmo número da edição de 2016, no Rio de Janeiro. Não serão as mesmas, no entanto, já que entraram dois novos esportes e outros dois foram retirados.
Badminton e Taekwondo entraram para o circuito paralímpico, enquanto o futebol de 7 e a vela foram retirados. Segundo o Comitê Paralímpico Internacional, o motivo para a retirada das modalidades foi o alcance internacional, que era pequeno e não justificava a permanência.
O Bolsa Atleta
O Bolsa Atleta é um programa do governo federal que visa apoiar financeiramente os atletas que representam o Brasil nas competições pelo mundo. São contemplados aqueles que atingem bons resultados em competições nacionais e internacionais. São seis categorias: Atleta de Base (R$ 370,00); Estudantil (R$ 370,00); Nacional (R$ 925,00); Internacional (R$ 1.850,00); Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100,00) e Pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil). A categoria mais alta, Pódio, contempla atletas com grandes chances de gerar medalhas para a delegação. Para isso, devem estar entre os melhores na sua modalidade.
De 2016 para cá, foram poucas as mudanças do Bolsa Atleta, o que é um problema. O programa não conta com nenhum reajuste há mais de 10 anos, ficando defasado e impossibilitando que atletas de baixa renda se dediquem somente ao esporte. É importante ressaltar que o valor pago para os atletas em cada categoria não leva em conta sua condição econômica. Outro dado que permaneceu praticamente o mesmo foi o número de contemplados. Em 2016, eram 6.152. Hoje, são 6.357.
Além disso, em razão da pandemia, o edital para o Bolsa Atleta não foi publicado em 2020, sendo adiado para janeiro de 2021. Os grandes prejudicados são os atletas que tiveram ótimo rendimento no ano de 2019, já que a inclusão no programa se dá de forma retroativa (o edital de 2019, por exemplo, leva em conta os resultados de 2018). Embora o discurso oficial do governo seja de que os resultados de 2019 e 2020 serão levados em conta, para modalidades que foram disputadas nos dois anos, apenas a última performance contará.
Em relação às inscrições, as mudanças não foram muitas. Por conta da pandemia, todas foram feitas on-line. Para o edital de 2021, infelizmente, não foram abertas vagas para novos contemplados, ou seja, foram apenas renovadas as inscrições de quem já estava no programa.
Apesar dos problemas, quem é contemplado elogia o Bolsa Atleta.
Izabella Campos, atleta paralímpica de arremesso de peso e lançamento de disco, bronze em 2016, diz que “o programa é o maior incentivo para nós atletas paralímpicos, devido não ter outros incentivos para darmos continuidade no alto rendimento. Não tenho nada a me queixar do programa, pois ele é o maior incentivo para nós atletas paralímpicos.”

O que podemos esperar dos Jogos 2020 + 1?
A quarta Olimpíada adiada da história – outras três acabaram canceladas por guerras – contará com 11 mil atletas de 204 países. O evento, que tinha investimento previsto de 13 bilhões de euros, deve receber na verdade 2,3 bilhões de euros a mais que esse orçamento, pelo adiamento e medidas de prevenção ao Covid-19 que serão empregadas. A estrutura dos Jogos Olímpicos conta com 43 locais, sendo 25 já existentes e que passam por adaptação para as competições, 10 temporários e 8 novas construções.
Apesar do adiamento e das incertezas que ainda rondam os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, o que é certo são os esforços tanto da organização quanto dos atletas para protagonizarem um grande evento.
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